Amigos de verdade


15 abril 2003

Nesta edição apresentaremos uma organização social que desenvolve iniciativas em uma seara ainda repleta de dúvidas e incertezas. Apesar disso, ao conhecer este trabalho, ficamos certos que a somatória dos esforços certamente está colaborando para amenizar das dificuldades de um grupo que, no Brasil, segundo estimativas, já ultrapassa a casa dos cem mil cidadãos: os autistas. Esta incursão nas organizações vem deixando cada vez mais clara a importância de alguns ingredientes na fórmula ideal para se alcançar sucesso no alcance dos objetivos sociais. Dedicação, aprimoramento contínuo e profissionalização, permeadas com amor à vontade, certamente compõem a parte fundamental desta receita.
A organização em pauta é a AMA – RP (Amigos do Autista de Ribeirão Preto), situada na conhecida “Califórnia brasileira”, cidade rica cercada de canaviais e, conseqüentemente, por usinas de álcool e açúcar. Além disso, essa localidade ganhou ainda mais notoriedade por ser o berço de um dos braços fortes do governo Lula, o ministro da Fazenda Antônio Palocci. A AMA – RP foi fundada em 1988, tratando-se de uma entidade educacional, terapêutica e clínica, de utilidade pública municipal, estadual e federal, sem fins lucrativos, com o objetivo de criar programas educacionais de adaptação e integração social a crianças autistas. Quisera os temas relacionados ao autismo tivessem uma pequena parcela do espaço dedicado diariamente às atuais questões macroeconômicas lideradas pelo ilustre cidadão ribeirão-pretano. Com a multiplicação de informações, certamente o trabalho desta entidade e de outras renderiam resultados ainda mais proveitosos.
Utopia à parte, para entender a importância das iniciativas empreendidas pela organização, vale apresentar alguns conceitos que norteiam a sua razão de existir (veja box ao lado). Cientes das características pertinentes aos autistas, a AMA – RP atua oferecendo atendimento a 44 alunos divididos em duas turmas de meio período cada, agindo principalmente em duas frentes: educação e orientação. Fica clara a intenção da organização de promover resultados consistentes e duradouros, tanto para o atendido quanto para seus familiares, personagens fundamentais para o bem-estar do autista. Também ocupam papéis decisivos no palco do atendimento aos autistas os colaboradores da AMA-RP, que possui um quadro com funcionários, estagiários bolsistas e voluntários, formando uma equipe interdisciplinar. Profissionais de diversas especialidades, entre elas psicologia, psiquiatria e fonoaudiologia, trabalham de forma remunerada na organização, realizando o necessário trabalho de acompanhamento dos atendidos. Além dos funcionários, a organização conta com estagiários estudantes de psicologia e pedagogia, além do providencial auxílio dos voluntários que dedicam seu tempo, carinho e conhecimento como musicoterapeutas e professores.
A organização possui uma série de programas, exercitados e repensados constantemente, para atingir com o maior grau de eficácia e eficiência os objetivos propostos. E esta preocupação com a reciclagem do conhecimento dos colaboradores, assim como a constante comunicação das conquistas aos interessados, faz com que os resultados sejam multiplicados. Não nos cansamos de eleger a capacitação como um dos pilares fundamentais no alcance da excelência na prestação dos serviços sociais. Felizmente o número de palestras, cursos e seminários de qualidade vêm aumentando significativamente, ao mesmo passo em que seus custos tornam-se mais acessíveis, além daqueles oferecidos gratuitamente. Isto sem contar os outros meios de informações, como revistas e a internet, ferramentas de conhecimento cada vez mais democráticas.
Observando os programas de atendimento da AMA – RP, fica evidente a preocupação com a atualização de suas ferramentas. Então vamos conhecê-las: primeiramente, existe uma avaliação e diagnóstico da pessoa especial; na seqüência, é realizado o atendimento educacional, terapêutico e clínico para as pessoas portadoras de autismo. Neste ponto é importante deixar claro quais são as medidas importantes para garantir o sucesso do atendimento. O início de um trabalho interdisciplinar e bem estruturado deve ser iniciado logo que se tem o diagnóstico da criança, ao mesmo tempo em que se inicia o trabalho de esclarecimento, orientação e apoio familiar. Quanto mais cedo começar o processo educacional e terapêutico com bons profissionais, maiores as chances desta criança vir a se tornar um adulto mais funcional, feliz, integrado à sociedade e ao trabalho. Os procedimentos educacionais para autistas precisam ter como princípio a integração, a funcionalidade, a produtividade e a independência. As propostas educacionais devem explorar o uso de recursos auxiliares, onde cada área deve ter um programa geral e cada aluno segue um programa individual. A educação altamente estruturada, voltada para o desenvolvimento de habilidades, tem se mostrado muito eficiente em todo o mundo e também na AMA-RP, onde existe um direcionamento para desenvolver ao máximo as habilidades sociais, funcionais e de linguagem.
Também fazem parte do trabalho interdisciplinar os atendimentos de fonoaudiologia e musicoterapia, além do atendimento psicológico que é feito por orientação de professores de psicologia da USP à coordenadoria técnica da AMA-RP. A avaliação clínica dos alunos, bem como o controle medicamentoso (daqueles que fazem uso de medicamentos) é feito pela psiquiatra que atende na AMA-RP, ou outro profissional que a família prefira. E por falar em família, mensalmente existe uma reunião com a coordenadora técnica para discussão de questões relacionadas ao autismo, bem como recebimento de orientações específicas sobre seu filho, além de uma produtiva sessão de troca de informações. Quanto mais envolvidas as famílias estiverem com o trabalho realizado na AMA-RP, mais eficaz será o tratamento. Algumas mães (que optaram por este atendimento) fazem terapia de grupo ou individual com psicólogo. Há inclusive uma oficina de artesanato, onde parte das mães desenvolve suas habilidades artísticas, ampliando a sua relação com a organização.
Conforme citamos anteriormente, é fundamental que as organizações sociais que trabalhem com este objetivo social, assim como outras com objetivos semelhantes, desenvolvam atividades de esclarecimento da população, buscando apoio e expandindo o conhecimento sobre a importância de suas iniciativas. A AMA-RP preocupa-se em fazer distribuir folhetos, folders e tablóides que falam sobre autismo, no intuito de esclarecer a população sobre este intrigante tema.
Dentro da proposta de criar condições para o desenvolvimento do autista, a organização mantém, internamente, oficinas ocupacionais e profissionalizantes, inserindo-os e tornando possível sua participação na sociedade de forma produtiva. São oferecidas, oficinas de montagem de cadernos, cadernetas e agendas, oficinas de silk screen, além de oficinas de Cartões de Natal. Os materiais produzidos por estas oficinas são vendidos, tendo a sua renda revertida para as atividades da entidade. E por falar em captação de recursos, conhecido desafio das organizações, identificamos na AMA-RP uma estratégia interessante de diversificação das fontes. Parte dos recursos vêm de convênios com as secretarias de educação; outra parte vem de uma relação de sócios-contribuintes (daí a importância de comunicar sobre as atividades da organização). Além destas fontes de captação, são realizados diversos eventos, os quais contam com o providencial apoio de uma motivada equipe de voluntariado.
Um último, porém não menos importante, assunto: a organização faz questão de informar que publica o seu balanço social todos os anos, através de um jornal. Ponto para a AMA-RP, que deixa claro, com esta ação, que desenvolve seu trabalho e aplica seus recursos com transparência, incentivando seus colaboradores a continuarem ajudando, além de tranqüilizar aqueles que estão começando a participar.
Como dissemos no início, o tratamento destinado ao autista ainda possui uma série de dúvidas a serem respondidas. Crianças, adolescentes e adultos de um olhar expressivo, merecem todo o esforço das pessoas que dedicam o seu tempo à sua educação e socialização. Ao menos uma certeza podemos extrair: a equipe da AMA-RP tem um forte compromisso com seu objetivo social, buscando sempre a melhor forma de se relacionar e amenizar as dificuldades desses atendidos tão especiais.

Box 1: O autismo
Toda tentativa de definição do autismo tem início na primeira descrição dada por Leo Kanner em 1943 no artigo intitulado: "Distúrbios autísticos do contato afetivo". Eram chamadas autistas as crianças que apresentavam inaptidão para estabelecer relações normais com o outro e um atraso na aquisição da linguagem e comunicação. Em 1976 vários cientistas e estudiosos do tema se reuniram e criaram uma definição inicial baseada em dados científicos da época. A saber: "autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave, durante toda a vida. É incapacitante e seus sintomas aparecem tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de cinco entre cada dez mil nascidos e é quatro vezes mais comum entre os meninos. É uma enfermidade encontrada em todo o mundo e em famílias de toda configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu provar nenhuma causa psicológica no meio ambiente dessas crianças que possa causar autismo." (The National Society for Autistic Children, USA-1978).

Dados do trabalho:

„X Número de atendidos atualmente: 44 (outros 21 já deixaram a organização)
„X Número de voluntários: 30
„X Material produzido nas oficinas: centenas de cadernetas, agendas, cartões de Natal, cadernos
„X Além de recursos financeiros, precisam de tintas e materiais de construção para aprimoramento de sua estrutura

Dados da organização:

Site: http://www.amaribeirao.org.br
E-mail: ama.rp@convex.com.br
Endereço: Rua Nélio Guimarães, 184 – Ribeirão Preto/SP
Telefone: (0xx16) 623-4905

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