ENTREVISTA: “Voluntárias(os) ensinando voluntárias(os)”, com Ana Cláudia Parisotto de Moraes

Canto Cidadão
4 maio 2021

Em nome da responsabilidade e do comprometimento com as causas às quais se propõem, os(as) voluntários(as) do Canto Cidadão realizam uma continuada preparação e aprimoramento, para levar arte e bons encontros aos beneficiados pelos programas socioculturais da organização. As rápidas mudanças presentes na sociedade contemporânea exigem uma constante adaptação, e as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos, como o Canto Cidadão, não fogem dessa lógica.

Essas organizações de aprendizagem surgem na década de 1990 com o intuito de “criar, adquirir e transmitir conhecimento e para modificar seu comportamento em resposta aos novos conhecimentos e insights” (GARVIN, 1993 apud DESSLER, 2003, p. 157). Com a finalidade de evitar repassar os mesmos conceitos, muitas vezes ultrapassados, as organizações devem incentivar o constante aprendizado e atualização de seus voluntários atuantes, promovendo recursos e um ambiente educativo para tal.

Em consonância com essa proposta de preparação dos elencos voluntários, em fevereiro de 2021 o Canto Cidadão abriu as inscrições para Programa de Identificação De Perfil (PIP), que é o processo de entrada para o treinamento inicial de novos(as) voluntários(as), em dois programas: Doutores Cidadãos (palhaçaria hospitalar) e EnCanta (atividades lúdicas e culturais em brinquedotecas hospitalares de unidades de saúde públicas e filantrópicas). De acordo com o primeiro Relatório Parcial das atividades do Canto Cidadão de 2021, o processo pretende capacitar até 45 pessoas, até o final do ano vigente. Para conferir mais informações sobre o PIP clique aqui.

O compartilhar de ideias e ensinamentos são a base de um bom aprendizado e uma comunicação enriquecedora, dessa forma, os integrantes dos elencos voluntários, além da preparação inicial, participam de diversos eventos relacionados ao comportamento humano e às manifestações artísticas. Inclusive, alguns desses eventos são conduzidos pelos próprios integrantes dos elencos voluntários.

No primeiro semestre de 2021, a organização segue com o CantoEduca, programa socioeducativo da organização, tanto por meio dos Grupos de Estudos (GE) – atividades temáticas voltadas para a capacitação continuada dos elencos atuantes -, quanto pelas mini oficinas temáticas, com experiências e ensinamentos que enriquecem as atividades dos programas. Até março de 2021, foram 35 eventos de treinamento, nos formatos já apresentados, com a participação de 628 pessoas, entre voluntários e pessoas da comunidade, em geral.

Ana Cláudia Parisotto de Moraes, pedagoga e voluntária do EnCanta

Colegas ensinando colegas

As temáticas podem variar desde artes cênicas, palhaçaria, música, contação de histórias, poesia, ludicidade, jogos colaborativos, comunicação e vários outros temas correlatos. Em consequência da pandemia do novo coronavírus, todo o treinamento e atividades do Canto estão sendo praticados em modalidade online. Ana Cláudia Parisotto de Moraes, pedagoga e atualmente se especializando em Neuropsicopedagogia, é voluntária do EnCanta, desde 2020, e ofereceu uma mini oficina de maquiagem artística aos colegas voluntários.

“A pintura facial sempre foi um hobbie e quando comecei a atuar como voluntária em 2020 ela auxiliou muito nos encontros online por tornar a apresentação mais chamativa. Na oficina foi apresentado uma breve história da pintura facial, diferença das técnicas, tipos de desenhos, luz e sombra, textura de pelo, animal paint e pintura lúdica.” disse em depoimento.

Confira a entrevista realizada com a voluntária:

Em consequência da pandemia do novo coronavírus, todos os treinamentos e atividades do Canto Cidadão estão sendo praticados em modalidade online. Você poderia comentar um pouco sobre a sua experiência com o treinamento à distância que ofereceu e como ele se deu?

A preparação para o treinamento precisou ser toda adaptada para o online, para que os participantes conseguissem ver o movimento de pincel junto com a maneira de segurá-lo optei por utilizar a câmera de maneiras diferentes, então uma parte da aula ela ficou focada no meu braço e na outra parte no meu rosto. Esse processo não foi difícil, mas precisou ser ensaiado antes. Essa fase de encontros online tem me proporcionado boas experiências e a oficina de pintura facial não foi diferente, foi muito positivo compartilhar sobre a arte corporal e ver as pessoas a utilizarem de maneira lúdica.

Você acredita que os voluntários que foram beneficiados pelo curso se sentiram mais confortáveis para participar efetivamente das aulas por se tratar de um outro voluntário ensinando?

Sim, não sei se isso aconteceu por conta de já ter encontrado eles em diversos saraus, mas durante a aula foi perceptível os diálogos, percebi que eles estavam à vontade e até mesmo a afetividade que temos, uns com os outros. Quando o afeto entra em jogo, qualquer aula se torna mais significativa.

Por muitas vezes, vemos o voluntariado ser exercido sem qualquer tipo de treinamento ou preparação, dificultando o alcance dos objetivos da organização. Em relação à responsabilidade e comprometimento com as causas filantrópicas, como você enxerga a importância de uma capacitação e preparação continuada nas atividades voluntárias?

Acredito na educação continuada, e que nunca é tarde para se aprender algo novo e melhorar aquilo que já fazemos. A cada contação de histórias já é possível aprender uma porção de coisas com os outros colegas. Quando se têm encontros focados nessa aprendizagem, é ainda melhor. Percebi isso nos saraus depois da oficina: alguns voluntários melhoraram a maneira de se caracterizar, usando mais cores, se pintando, e acredito que o nosso encontro contribuiu para melhorar ainda mais a nossa prática.

A organização social também deve promover um ambiente propício e incentivar os programas socioeducativos para seus voluntários atuantes. Como você percebe o incentivo ao treinamento e aprimoramento dos voluntários, no Canto Cidadão?

Eu admiro muito a estrutura do Canto. Lembro que, quando comecei a participar do CantoEduca, eu queria ir em todos, porque realmente eram fantásticos (ainda são). Confesso que essa nova estrutura de ciclos é a minha preferida, principalmente pela organização das datas já serem pré-estabelecidas. Percebo que existe um trabalho grande por trás do que é apresentado a nós (voluntários). Tento sempre valorizar da melhor maneira possível, quando se trata dos treinamentos, vejo que é uma oportunidade de aprendermos mais para fazer melhor.

“Não posso deixar de aproveitar a oportunidade para dizer que o Canto Cidadão ganhou meu coração no primeiro dia de apresentação do PIP, em 2020. Era início de pandemia, todos estávamos nos adaptando no formato online e eles demonstraram uma preocupação pela qualidade no nosso treinamento, que foi sensacional. O começo da atuação sendo online deu um pouco de medo e a Isabela sempre estava lá, dando dicas, ajudando, apoiando e isso fez muita diferença. Então, quando conversamos sobre a oficina de pintura facial, me senti muito feliz de poder compartilhar um pouco do que sei sobre o assunto e poder retribuir de alguma forma, toda a alegria que o Encanta traz pra minha vida”, complementou a voluntária.

É importante apontar que a capacitação continuada vai muito além de atender a demanda de aprimoramento das habilidades para exercer atividades, engloba também o desenvolvimento pessoal como indivíduo, promovendo sua capacidade analítica e a aquisição de maiores competências interpessoais e sociais. (DORO, 2012, p. 4).


Entrevista realizada por Camila Araújo, voluntária do Time de Reportagem do Canto Cidadão.

Fonte:

  • DORO, Ana Paula Gonçalves. Treinamento e desenvolvimento em uma organização do terceiro setor: o caso da ABAN. Disponível clicando aqui. Acesso em: 6 de Abril de 2021.