Livros iluminando a viagem


15 dezembro 2003

Conheça o trabalho da Expedição Vaga Lume, organização social que busca contribuir para o desenvolvimento de comunidades rurais da Amazônia através da democratização do acesso ao livro.

O vaga-lume é um animal interessante. No processo evolutivo, lutando pela sobrevivência e continuidade da espécie, uma característica foi desenvolvida para compensar uma deficiência. A fêmea não pode voar, somente se arrastar pelo chão. Já o macho tem asas, e conseqüentemente voa. Sendo assim, como a equação da reprodução seria equacionada? Daí é que surge o diferencial: compensando a falta de asas, a fêmea desenvolveu uma substância que em determinadas condições se torna luminescente. Ou seja, a luz verde é o sinal para que o macho interrompa seu balé aéreo e venha se juntar à fêmea. A partir da irradiação de luz a espécie garante a sua continuidade. Assim também é a Expedição Vaga Lume, que faz jus ao nome e vem levando, desde 2002, luz para comunidades rurais da Amazônia Legal. E a luz que o projeto irradia é a cultura através do hábito da leitura, uma vez que 32 bibliotecas infantis já foram implantadas em escolas de comunidades rurais, além da capacitação de 550 professores e voluntários como mediadores de leitura.

O primeiro vôo
A expedição teve como protagonistas um pequeno grupo de amigas: a historiadora paulista Sylvia Guimarães, 26 anos, e a administradora goiana Laís Fleury, 29 anos, se conheceram no carnaval de Olinda em 1999, e descobriram um interesse comum: criar um projeto para os habitantes da Amazônia. Naquele instante, Sylvia entendeu que era pertinente apresentar Laís a uma amiga, a relações públicas Maria Teresa Meinberg, a Fofa, 26 anos. Deste encontro resultou a transformação do desejo coletivo em uma causa. Segundo Laís, “cada uma tinha dentro de si o desejo de viajar pela Amazônia, conhecer os habitantes de lá e desenvolver um trabalho que contribuísse para o desenvolvimento das comunidades rurais”. Ela completa: “a expedição Vaga Lume é um pouco de cada uma de nós misturada. As idéias surgiram e nós viabilizamos com apoio de várias pessoas que compraram a idéia. Cada um ajudou da sua forma”. Assim, o trabalho começou a vingar. Durante o ano de 2000, as três empreendedoras estudaram as formas de captar o recurso necessário para iniciar o projeto: aproximadamente 400 mil reais. Parecia, e realmente era, muito dinheiro. Mas não foi o suficiente para desmotivar o grupo que tinha como missão apresentar o prazer da leitura a crianças carentes, montando e promovendo o abastecimento de bibliotecas. Num ato de coragem, elas deixaram seus empregos, e contaram com o apoio da família até que o projeto desse algum retorno. Como prêmio pela persistência, em 8 de março de 2002, a Expedição Vaga Lume decolou! Passando por Mato Grosso, Tocantins, Amazonas, Acre e Pará, elas foram apresentadas a um Brasil ainda desconhecido para a maioria. Nem mesmo a distância da família e as condições precárias de alguns locais não interromperam a aventura solidária. “O projeto era maior do que tudo”, garante Sylvia. A volta, em 20 de dezembro, trouxe na bagagem a absoluta certeza de que esses nove primeiros meses tinham sido apenas a largada de uma longa jornada.

A engrenagem da iniciativa
Aceitar o desafio de reduzir o abismo cultural existente entre a população amazônica e outras regiões do país envolveu muitas variáveis. Havia uma logística a ser respeitada para alcançar os objetivos propostos. A viabilização das primeiras bibliotecas se deu com os recursos oriundos dos incentivos proporcionados pela Lei Rouanet. O orçamento de 390 mil reais foi patrocinado pela Fináustria Financiamentos, que participou com 320 mil reais, e pela Amazônia Celular, que contribuiu com 70 mil reais. Os 10 mil livros iniciais foram comprados e a empreitada começou. Cada biblioteca foi formada com duas estantes com caixas móveis contendo 300 livros infantis e infanto-juvenis diferentes cada uma. As caixas foram feitas para serem facilmente transportadas e, assim, se aproximarem mais ainda das crianças. O primeiro passo dado foi entrar em contato com Secretarias Municipais de Educação e acertar as parcerias que tornariam real a iniciativa. A Expedição Vaga Lume ficaria encarregada das oficinas e das bibliotecas, enquanto a Secretaria ofereceria a alimentação e o espaço para as atividades, além de transporte e hospedagem para os professores que necessitassem. Assim foi feito, resultando na criação das 32 bibliotecas, em 22 municípios da região, atingindo 17 mil alunos. 
Mas além de entregar os livros, era fundamental criar multiplicadores que trabalhassem no dia-a-dia a importância da leitura. O risco de simplesmente deixar os livros, sem o envolvimento do corpo docente, era muito grande. Era necessário criar compromisso e motivação. Exatamente por isso 550 professores foram treinados como mediadores de leitura. A professora Maria Lucinéia de Oliveira ressalta a importância do curso dado por Laís, Sylvia e Maria Teresa: "Eu não sabia como contar uma história, então tinha medo. Aprendi que é preciso dar liberdade aos alunos e trabalhar com espontaneidade".

A pertinência da iniciativa
Além de possuir um apelo muito interessante – a democratização do acesso ao livro e ao hábito da leitura -, o projeto ganha em pertinência em função do público-alvo escolhido: povoamentos isolados da Amazônia, onde raramente existem bibliotecas em escolas públicas. A entrega dos livros, aliada ao treinamento dos professores e mobilização da comunidade, foi a receita para transmitir às crianças o encantamento da leitura. Segundo José Edson Freitas, professor da comunidade indígena de Areial, as histórias estão sendo usadas em sala de aula. "Não havia livros aqui. Agora as crianças estão aprendendo a ir até a biblioteca e escolher qual história querem ouvir", conta ele. Para Edneusa Carneiro Brazão, diretora da escola da tribo de índios tucanos e tarianas, na Ilha de Camanaus, próximo a São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, os livros estão ajudando as crianças a aprender melhor o português, já que muitas se comunicam em casa em suas línguas de origem. "Só tínhamos livros didáticos; as histórias infantis estão sendo usadas para estimular a imaginação e desenvolver o raciocínio das crianças", diz ela.
Outra prova da importância do trabalho foi o reconhecimento público feito na Bienal do Livro Infantil/Juvenil, realizada em São Paulo, em 2002, na qual o Vaga Lume foi homenageado com o Prêmio Difusor do Livro.

Exemplo de resultado e continuidade
Laís conta uma passagem que demonstra um resultado prático: “em 2002 nós implantamos uma biblioteca em Castanhal no Pará, em um assentamento do MST. Em setembro de 2003 nós voltamos lá para ver como estava a biblioteca. Tínhamos deixado 300 livros com eles. Mas eles fizeram um programa de arrecadação e conseguiram mais 700. Reformaram um galpão velho e montaram a biblioteca lá. Neste período já houve mais de 1050 retiradas dos livros feitas pelas crianças. Os professores se organizaram e destinaram parte do salário deles a uma pessoa encarregada de cuidar dos livros. Isto mostra que nosso trabalho se multiplicou.” Ainda em 2003 o grupo deve voltar à Amazônia com alguns objetivos: promover e incrementar ainda mais a iniciativa, levá-la para outras comunidades e exibir o documentário montado com imagens da viagem. Para alimentar as novas bibliotecas, campanhas de arrecadação de livros estão sendo feitas em eventos e escolas particulares de São Paulo, contando com a ajuda de voluntários.
A Expedição Vaga Lume não pretende encerrar tão cedo o seu vôo. Uma viagem incrível pela terra das possibilidades. Afinal, qual o resultado prático do acesso à leitura? Estudiosos garantem que o poder é transformador, geralmente para condições melhores. Esta é a motivação da organização. Esta é a esperança de todos nós.

Números Expedição Vaga Lume
• 32 bibliotecas montadas
• 22 municípios atendidos
• 17 mil alunos beneficiados
• 550 professores treinados como mediadores de leitura
• Custo inicial: R$ 390 mil


Dados da Expedição Vaga Lume
Endereço: Rua Purpurina, 155 Cj. 46 – Vila Madalena
Cep: 05435-030
Tel: (0xx11) 3032-6032
Área de Atuação: Educação e cultura
Site: www.expedicaovagalume.org.br
E-mail: falecom@expedicaovagalume.org.br

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