O caminho me espera. Eu quero caminhar! Mas, antes, preciso me preparar. O que eu realmente preciso levar em minha mochila? Como eu posso cuidar de mim pra poder caminhar mais e melhor? Aliás, antes de tudo, por que eu quero caminhar? Bom, primeiro porque eu sou um bípede. E bípede é o ser que caminha sobre duas pernas. Provavelmente você, que neste momento lê estas palavras, também seja um bípede. Assumindo que os leitores sejam humanos, uma vez que são bípedes e podem ler um texto, vale lembrar que a história de nossa espécie tem relação direta com o fato de caminharmos. A evolução de nosso cérebro, que tantas experiência e oportunidades, boas e ruins, vem nos proporcionando ao longo dos tempos, também está ligada à possibilidade de nos equilibrarmos sobre duas pernas. Com as mãos livres, começamos a criar coisas e a desenvolver a nossa capacidade de raciocinar, construindo pouco a pouco a diferença em relação a milhares de outras espécies animais. Se estamos fazendo bom uso de nosso poder criativo, daí já é outra história. Pedindo desculpas pela ousadia de querer explicar 3 milhões de anos em alguns segundos, o ponto importante aqui é lembrar que nossos ancestrais provavelmente só sobreviveram aos imensos desafios pelos quais passaram porque eles caminharam. O movimento parece estar impregnado em nosso dna. Somos, essencialmente, exploradores curiosos. Um exemplo claro são os antigos navegadores. Cruzaram mares desconhecidos, arriscaram suas vidas pelo desejo de desbravar novas terras. Lembro-me do português josé régio, que diz em sua poesia cântigo negro: “se vim ao mundo, foi pra desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada; o mais que faço, não vale nada”. Mas como os navegadores estão muito distantes de nós, proponho outro exemplo: as crianças bem pequenas. Você já reparou como ela é curiosa? Logo nos primeiros meses começa a expressar sua vontade de movimento. Rola no colchão, daí se arrasta, engatinha até que, enfim, dá os primeiros passos. Instáveis, tortos, temperados por infinitos tombos, mas corajosos! A criança pequena está atendendo ao chamado da natureza: caminhar rumo ao futuro! Cheia de curiosidade, os bebês se espantam com tudo! Vivem de pura filosofia, uma vez que a base de qualquer aventura filosófica é a capacidade humana de se espantar com as coisas da vida. Quando a curiosidade e o espanto se enfraquecem, o ser humano perde a vontade de caminhar. Como se as suas asas tivessem sido brutalmente arrancadas e as notas do seu canto roubadas, o indivíduo troca a imensidão do céu por um pequeno espaço num canto de um ninho qualquer. O que mais me chama a atenção é um detalhe muito curioso desse processo de perda da curiosidade: na maioria das vezes, não são os outros que arrancam as nossas asas de uma só vez. O que acontece é um lento e progressivo abandono de nossa capacidade de voar, ou ainda, caminhar, fazendo com que a nossa musculatura inventiva, nossa natureza mais essencial, seja atrofiada. Parece muito mais uma questão de escolha individual, ou seja, de dentro para fora, do que uma imposição do ambiente externo. Aqui entra o papel do compromisso individual com o caminho que escolhemos. Até porque algo está claro pra mim. Se eu não abraço o meu destino e sigo em direção a ele, um outro destino qualquer provavelmente vai me arrastar pelos cabelos, em alta velocidade. Pra onde? Pra onde? É hora de caminhar! Sinto-me pronto. E mais! Sinto-me com vontade de lançar meus passos na estrada inexplorada! Última inspiração antes da transpiração do caminho: prometo a mim mesmo, em respeito a mim, a quem me ensinou a andar e a quem me deu o presente da vida, a sempre me lembrar aonde quero chegar. Prometo, ainda, ter a humildade de parar quando eu perceber que estou em alta velocidade, mas na direção errada, diferente daquela que meus valores e sonhos apontam. Só quero velocidade se eu estiver com a espinha ereta, cabeça erguida, sorriso largo e coração aberto por reconhecer que estou na direção em que acredito. Caminhante, não há caminho. O caminho se faz ao caminhar.