Até quando?


30 junho 2009

Em minha recente viagem a capital do Ceará, Fortaleza, minha percepção de uma realidade ficou mais clara ou mais real.

Nesta visita a cidade, fui visitar uma instituição de caridade, uma ONG, que foi fundada e é dirigida por uma mulher incrível. Dedicou sua vida aquela casa onde abriga de forma inacreditável 80 jovens de 10 a 25 anos de ambos os sexos. Sem apoio de governo, salvo a merenda ( da manhã) e os professores do ensino fundamental que lecionam na escola contigua ao abrigo, que são mantidos pela prefeitura local.

O restante, roupas, alimentos, remédios, transporte, documentos, são mantidos a base de doações da comunidade e de amigos de toda parte do país.

Ela uma senhora de idade avançada, solteira, professora de formação e de trabalho por anos a fio, herdou de seus pais a casa onde começou a construir sua missão, hoje ampliada mas em situação muito precária, ainda mantém o sonho de uma vida inteira dedicada a obra.

Quando se conversa com ela, como fiz em duas oportunidades, percebe-se sua paixão por Deus e por fazer bem ao próximo. Ela relatou diversos casos de jovens que foram deixados sob seus cuidados e ela conseguiu formá-los e hoje são pais de família, tem médicos, advogados, nutricionista, técnicos é incrível o que ela faz com poucos recursos. Quando digo ela é ela mesmo, pois ela conta com mais três pessoas para ajudá-la, uma que é sua faz tudo, uma que é a cozinheira, um zelador e mais duas diaristas para limpeza.

Voluntários quase não há, trabalho muito.

Mas minha maior indignação não é pelo esforço e pouca ajuda, pouco dinheiro, mas pelo afastamento  do poder publico de uma obra tão importante, pois o poder publico usufrui deste espaço, encaminhando jovens praticamente todos os dias através dos conselhos tutelares e também das varas de infância.

Mas o motivo de meu relato é na verdade sobre algumas histórias que ouvi nesta ultima visita, com tempo, sentado e pronto para fazer o papel de ouvinte de verdade, pude observar como os valores estão se transformando com o passar do tempo.

Há pouco quando jovem, é pouco mesmo ta, 25 anos, é pouco comparado com a história da humanidade, quando tínhamos problemas na escola, em casa, com os amigos, com os pais, enfim problemas de uma forma geral, a família era o centro de resolução dos conflitos, quando pais muito religiosos, na pior das hipóteses se envolvia o padre ou pastor para alguns conselhos importantes para nosso desenvolvimento como seres humanos.

Muitas histórias que ouvi dão conta que o fórum para as soluções dos mesmos conflitos que dantes eram resolvidos na família, hoje são resolvidos no conselho tutelar, perante um Juiz da Vara de Infância e do Adolescente, esta inclusive que na minha época existia sim mas para dar encaminhamentos aos casos de fatalidades com crianças órfãs ou casos de paternidade não assumidas.

Hoje para minha surpresa, quando os pais que colocaram os filhos no mundo, com ou sem planejamento, essa é uma outra discussão, que deveriam zelar pelo bem estar destas, zelar pela educação, tanto escolar quanto de vida, estão simplesmente transferindo estas funções para o estado assoberbado de atribuições e de desmandos.

Neste caso vi famílias chegando a esta instituição e entregando seus filhos, 2 até 03 de uma única vez, por não conseguir cuidar ou por como também ouvi, “ não ter paciência com crianças” . Meu Deus dai pergunto até quando nossa sociedade fará vistas grossas para esta situação que não é o abandono mas a total destruição da instituição chamada família.

Até quando nossas famílias vão “ fazer” filhos sem uma preocupação de como cuidar e prepará-los para a vida? Até quando nossa sociedade vai alimentar este crescimento populacional despreocupado? Até quando nosso governantes vão evitar falar de “qualidade” de natalidade?

Não é controle de natalidade, precisamos nos preocupar em formar os jovens sobre o que é constituir uma família, que não basta ter roupinhas bonitas doadas pelo governo quando o bebe nasce, precisamos de condições emocionais para ser pais, precisamos ter boas ou melhores escolas para educar estas crianças colocadas no mundo, precisamos de cidades adaptadas para receber jovens e não ter que ditarmos “toque de recolher” aos jovens após as 22 horas.

Até quando vamos fechar os olhos e fingir que nada disso está acontecendo? Centenas de crianças, bonitas, com um  potencial maravilhoso sendo literalmente jogadas a sua própria sorte.

Pois se lembram daquela senhora que cuida de 80 crianças? Pois bem, por mais carinho, compreensão, educação, alimento que ela de, ela não consegue dar o que talvez seria o mais importante a possibilidade de ser  chamada de mãe e não consegue dar o lado paterno que não está presente. Dirão alguns: Mas é muito melhor estar lá do que na rua.

Sim é muito melhor, mas seria melhor se toda nossa sociedade cuidasse de seus filhos, pois minha preocupação não é o pais que estamos deixando para nossos filhos mas sim os filhos que estamos deixando para nosso país.

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