Conteúdo produzido por Camila Araújo e Maiara Leones, voluntárias do Time de Reportagem do Canto Cidadão
O cenário de pandemia mundial e isolamento social, em decorrência do novo coronavírus, desencadeou uma repercussão negativa na saúde mental de muitos brasileiros, sendo percebido não só pelo medo de contrair a doença, mas também impactando as relações interpessoais e a conexão do indivíduo com a coletividade (Lima et al., 2020; Ozili & Arun, 2020). A comunicação e a relação com o outro é algo que está em nosso DNA, é intrínseco ao ser humano, mas em momentos de introspecção e isolamento como o presente, muitas vezes deixamos passar algo fundamental para nosso desenvolvimento: o pertencer a uma sociedade e se relacionar com ela.
Dessa forma, fazer um trabalho voluntário é duplamente benéfico, tanto para organização ou causa social que está recebendo o auxílio, quanto para o(a) voluntário(a), em si. Fazer parte de um programa de voluntariado traz diversos benefícios, criando espaço para novos aprendizados e vivências.
“Você vai doar seu tempo, vai gastar sua energia e vai receber muita coisa de volta. Você vai crescer, vai se conhecer melhor e vai ter experiências incríveis e únicas. […] (O voluntariado) É troca; um encontro só é bom se tem troca. […] A gente sempre tem a oportunidade de estar conhecendo alguma coisa nova, ou nesse mundão ou dentro da gente.” — relatou Vera Smith, voluntária do Canto desde 2019 e psicóloga com experiência em psicologia hospitalar.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos (“Busy yet socially engaged: volunteering, work-life balance, and health in the working population”) mostrou que voluntários apresentam uma carga de estresse muito menor, em relação a outros não voluntários, além de um melhor senso de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Outros benefícios que o engajamento social voluntário inclui na saúde mental de quem o pratica são apontados na obra de Allan Luks, “The Healing Power of Doing Good: The Health and Spiritual Benefits of Helping Others” (em português, “O poder curativo de fazer o bem: os benefícios espirituais e à saúde em ajudar os outros”), que mostra uma pesquisa oriunda de entrevistas com mais de três mil voluntários, para descobrir os benefícios do voluntariado no bem estar e saúde destes. A pesquisa concluiu uma ligação direta entre praticar ações filantrópicas e o grande bem estar e satisfação proporcionados, apresentando uma redução em seus níveis de estresse e liberação de endorfinas, neurotransmissores que desencadeiam a sensação de felicidade.
Ainda assim, O Brasil está entre os países com menor engajamento voluntário, ficando em 123º em um ranking de 146 países, com nota 23, em um total de 100, segundo Relatório dos Países Mais Generosos, do instituto de pesquisas Gallup, de 2018. Tendo em vista o momento de comoção mundial em decorrência da pandemia do novo coronavírus, são ações como estas que devem ser incentivadas e reproduzidas.
Referência: Ramos R, Brauchli R, Bauer G, Wehner T, Hämmig O. Busy yet socially engaged: volunteering, work-life balance, and health in the working population. J Occup Environ Med. 2015 Feb;57(2):164-72. doi: 10.1097/JOM.0000000000000327. PMID: 25654517.