PAULO SALDAÑA – O Estado de S.Paulo
A Prefeitura de São Paulo vai promover mudanças nas diretrizes curriculares dos anos iniciais do ensino fundamental das escolas da capital. A partir do ano que vem, a rede terá o ciclo de alfabetização, que envolve os três primeiros anos – dessa forma, os alunos poderão ser retidos no 3.º ano, e não somente no 5.º, como ocorre hoje. As alterações vão representar a chegada à cidade dos projetos educacionais desenhados pelo Ministério da Educação (MEC).
As orientações curriculares vigentes na rede municipal (desde 2008 a Prefeitura conta com um currículo próprio) serão substituídas pelos Direitos de Aprendizagem, documento organizado pelo atual secretário municipal de Educação, César Callegari, enquanto ocupava a secretaria de Educação Básica do MEC.
"É um avanço em relação à proposta dominante na cidade, que se concentrou na metodologia chamada Ler e Escrever, muito concentrada nessas habilidades", explicou. "O programa agora tem dimensão maior. Além dessas habilidades, há a preocupação de que entendam o que estão lendo. É muito ligado à concepção de letramento. Passa por outros conhecimentos."
Finalizado em dezembro, o documento está na pauta para ser analisado no Conselho Nacional de Educação. Na avaliação de Callegari, ele traz uma grande mudança para o Brasil, porque define o que o aluno "tem o direito" de aprender a cada ano. "Mas não pode ser confundido com currículo mínimo. Os métodos são variados, não é cartilha."
Especialistas em educação não veem com bons olhos o possível abandono do currículo da cidade, que era bem avaliado. "O governo federal fez uma coisa melhor para uma cidade que não tem nada. Mas para quem já tem um currículo, com material, não dá para entender o objetivo. A Prefeitura precisa mostrar claramente o que se ganha com isso", afirma a consultora em educação Ilona Becskeházy.
A professora da USP Paula Louzano diz que o documento vigente é coerente. "Ele foi construído como um processo e tem legitimidade na rede. Além disso, a descontinuidade das políticas é negativa."
Callegari afirma que a iniciativa tem característica "incremental" e materiais didáticos não serão abandonados. Mas pode haver mudanças a partir do ano que vem, quando o ciclo da alfabetização for normatizado – na prática, o trabalho começa neste ano. A ideia não é represar alunos no 3.º ano, mas focar e avaliar esse período.
Formação. O passo inicial da nova gestão na educação foi dada ontem, no primeiro dia da formação dos orientadores pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). A concepção do projeto, lançado no ano passado pelo governo federal, já contém os Direitos de Aprendizado.
De São Paulo, 180 coordenadores começaram a ser treinados para atuar na formação continuada dos alfabetizadores. Além da rede da capital, participam também profissionais de Santo André, São Bernardo do Campo e Embu das Artes – totalizando 450 educadores. Ao todo, serão 200 horas de atividades.
Fonte: Estadão