Declaração de guerra aos carrapatos


1 abril 2013

O carrapato é um bicho malandro. Não conheço nada da evolução desse animal, mas imagino que ao longo de milhões de anos ele foi desenvolvendo técnicas de sobrevivência. Uma delas, talvez a única que eu conheça, é buscar uma posição no corpo de sua vítima na qual ele não possa ser facilmente atingido. Em um cachorro, por exemplo, o seu sonho de consumo é estar na região da nuca, porque assim a pata do auau não o incomoda tanto quanto se estivesse em local mais vulnerável. Muitas vezes é impossível para o cachorro se livrar de um carrapato sozinho. Ponto para o carrapato, que mesmo sendo um animal irracional elaborou uma estratégia de perpetuação de sua espécie. Saindo do carrapato real e observando esse animal como uma metáfora, chego aos seres humanos. Quantas vezes somos vítimas de carrapatos? Pessoas, histórias, ambientes que sugam nossa energia vital, nosso sangue e oxigênio? Apesar de coçar, irritar, incomodar, fazer ferida, por vezes o bichinho fica lá, banqueteando-se às nossas custas e às nossas costas. Ah, podemos argumentar, mas é tão difícil arrancar esse parasita que não consigo alcançar! Não tenho braços suficientemente longos para abolir esse mal de meu corpo e vida! Chegamos ao mesmo problema do cachorro. Pois é. E agora? Fim da linha? Estamos condenados a aceitar o chupa-sangue vivendo impunemente, alimentado acima de tudo por nossa decisão ou falta de decisão de encontrar meios de salvação? Voltemos ao auau. Para se livrar de um carrapato difícil de ser alcançado sozinho, o dog conta com o apoio de alguém que o estime a ponto de auxiliá-lo a se livrar dos incômodos. Um humano, por exemplo, conquista a confiança do cachorro, que permite que seus pêlos sejam vasculhados e os parasitas retirados. Ao final, ele agradece o seu cuidador com fartas lambidas e com reciprocidade de amor cotidiano. Aos nossos carrapatos, humanos, será que cuidadores não tentam nos avisar? Familiares, amigos, representantes de nossas religiões, teóricos e outros, não estariam nos apontando a localização do bichinho sugador de forças, assim como se colocando à disposição para nos auxiliar no procedimento de retirada? Podemos tentar sozinhos, claro. Mas quando nossas patas não alcançarem o local do incômodo, talvez seja necessário observar a oferta de ajuda alheia. Depois do alívio, vamos lamber agradecidamente nossos heróis, ficando atentos às oportunidades de retribuição do apoio. Em respeito ao sangue vital e ao potencial do cuidado mútuo, declaremos guerra aos carrapatos!