Educação, cultura e saúde pintam a comunidade de azul


15 março 2006

Há quase 30 anos uma proposta de parceria sinérgica com uma comunidade da zona sul de São Paulo vem conquistando resultados interessantes.

Em 1975 uma pedagoga resolveu abrir as portas da sua própria casa para interagir com crianças da favela Monte Azul, localizada na zona sul da cidade de São Paulo. A sua idéia era realizar tardes recreativas, contando com a ajuda dos alunos da escola particular onde lecionava.
E foi assim que Ute Craemer, a protagonista em questão, começou a construir uma ponte entre seus alunos e as crianças da favela. E estas construções ligaram Ute às famílias dos meninos e meninas, e a partir de então reuniões começaram a ser feitas com os pais, a fim de que soluções conjuntas fossem encontradas para os problemas da comunidade. O intercâmbio com as crianças e o diálogo com seus pais foram as bases de todo o trabalho desenvolvido pela Associação Comunitária Monte Azul, fundada em 1979.
As primeiras atividades foram desenvolvidas na escolinha para crianças e jovens, e também no ambulatório médico, construído em mutirão pelos moradores. Passos iniciais em consonância com as carências sociais mais urgentes, ou seja, educação e saúde. Daí para frente, a presença da Associação na favela cresceu continuadamente e, a partir de 1983, se expandiu para mais duas comunidades: a favela Peinha e o bairro carente Horizonte Azul, ambos localizados também na zona sul da capital de São Paulo. A presença de projetos sociais nesta região da cidade vem em uma crescente desde a década de setenta, uma vez que ali se concentra uma parcela significativa de moradores da metrópole, especialmente moradores de baixa renda.
Informações obtidas junto à Associação dão conta que a favela Monte Azul – onde atualmente se encontra o Centro Cultural da ONG – provavelmente surgiu na década de sessenta, e atualmente possui dois mil moradores que vivem em 480 casas de alvenaria, antigos barracos de madeira, que foram erguidas em mutirões comunitários. A população é proveniente de estados do nordeste brasileiro, de Minas Gerais e do Paraná. Os mais jovens moradores nasceram e se criaram na própria favela, onde existe um ambiente amigável e tranqüilo.
Segundo Ana Maria Medeiros, coordenadora da Oficina Social da organização, os maiores desafios atuais são o “empoderamento da comunidade, fazendo com que ela assuma a ONG como sendo parte dela e o fortalecimento da nova unidade na comunidade de Horizonte Azul”. Isto porque a interação com a os moradores ainda determina o surgimento de novas frentes de trabalho da Associação Monte Azul, a partir do diálogo entre as necessidades da população atendida e as possibilidades e capacidades da organização social, que tem como maior objetivo impulsionar o processo de crescimento individual e comunitário.
Ainda segundo a opinião da coordenadora, o ponto forte da ONG está centrado na filosofia utilizada, que se fortalece continuamente, valendo-se da pedagogia Waldorf e da medicina ampliada pelos princípios da Antroposofia.
Os projetos desenvolvidos pela Associação estão ligados à educação, cultura, saúde, desenvolvimento social e preservação do meio ambiente. Em se tratando de educação, é oferecido à comunidade desde o berçário, creche, pré-escola até a complementação escolar, utilizando-se da pedagogia Waldorf para desenvolver paulatinamente a imaginação até a formação do raciocínio abstrato. “Os educadores tratam crianças e jovens como seres humanos integrais, ansiosos não só por cuidados materiais e o simples acúmulo de conhecimento, mas por uma educação que fortalece e desenvolve as capacidades inerentes a cada individualidade para que, na idade adulta, cada um possa cumprir a sua missão de vida com liberdade”, informa Ana Maria. “
As iniciativas de educação cumprem o papel de apoio às famílias e investimento nas crianças e adolescentes, pois o atendimento diário possibilita abrigo e segurança às crianças cujas mães trabalham fora e também alimentação nutritiva, assistência médica e saúde preventiva, possibilitando aos pequenos o desenvolvimento com a energia e o ambiente propícios. Os maiores, ou seja, pré-adolescentes e adolescentes, desenvolvem atividades em horário complementar à escola tradicional (cultura, esportes e lazer), assim como têm a possibilidade de participar de oficinas de iniciação ao trabalho, tais como marcenaria, reciclagem de papel, reciclagem de móveis, corte e costura e panificação.
“Atualmente estamos batalhando para aumentar o espaço físico e a estrutura da organização, para que possamos dar atendimento a toda a demanda”, conta Ana Maria.
E a demanda também está relacionada às demais áreas de atuação da organização, como por exemplo o Centro Cultural, que oferece programação de teatro, música, coral (adulto e infantil), oficinas de expressão e artes, festas que homenageiam culturas de diferentes povos e que comemoram datas históricas. Ainda como contribuição cultural, a Associação abre as portas da sua biblioteca, tornando acessíveis os títulos para empréstimos, pesquisas e reforço escolar, atendendo alunos e professores da própria ONG e escolas públicas da vizinhança.
 Além de cuidar da mente das crianças, adolescentes e demais membros da comunidade, a Associação também oferece cuidados para o corpo, por intermédio da prestação de serviços médicos ambulatoriais em três localidades da zona sul da cidade de São Paulo. São programas de promoção de saúde e prevenção de doenças, atendimento médico (clínico geral, pediatria, ginecologia, psiquiatria), assistência psicológica e terapêutica, assistência nutricional, pré-natal e pós-natal, atendimento odontológico e parceria com a prefeitura, pela da Secretaria Municipal da Saúde, na co-gestão do Programa de Saúde da Família (PSF).
 Buscando vencer o desafio citado, ou seja, empoderar a comunidade, a Monte Azul oferece um programa de formação ampla para todos os colaboradores da associação e outros interessados. Trata-se da Escola Oficina Social, que procura desenvolver ainda mais a ação social, considerando a grande necessidade que há no mundo de se formar pessoas com habilidades sociais a partir do conhecimento e compreensão do ser humano como ente físico, psíquico e espiritual e em relação ao mundo. Ainda, nas localidades atendidas, carentes de infra-estrutura e onde há grande disparidade de classes sociais, a Monte Azul organiza e acompanha o desenvolvimento de assuntos de interesse da comunidade, visando principalmente a qualidade de vida.
Ana Maria apresenta os resultados dos projetos sociais, relatando que “anualmente a organização atende a uma média de 6 mil pessoas nas áreas de saúde, educação e cultura. Mensalmente na área da educação são atendidas 1.100 alunos de 0 a 18 anos, e pelo menos 20 mil pessoas freqüentam o centro cultural durante o ano todo. Já nos cursos são atendidas 600 pessoas e no núcleo de saúde 4 mil pessoas por mês.”
A relação entre a comunidade Monte Azul e a Associação Monte Azul é sinérgica, com resultados positivos para ambas as partes. Tal modelo de interação sem caráter de intervenção vem conquistando cada vez mais sucesso em diversas localidade do Brasil e do mundo, uma vez que respeita o momento da comunidade e, a partir de acordos e desafios elaborador e identificados em conjunto, existe a possibilidade de realizar modificações perenes.

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