“Faustão Iscariotis”


10 fevereiro 2011

Pedro Collor por ter traído seu irmão Fernando no episódio que culminou com o impeachment em 1992? O caseiro Francenildo que traiu o esquema e derrubou o ex e atual ministro Palocci? Os últimos quatro Presidentes que traíram as oportunidades que tiveram?
Não.
O verdadeiro Judas do início deste milênio se chama Faustão.
Faustão Iscariotis.
Quem ele traiu?
Todos os gordos.
Eu levei um baita susto num outro dia. Olho para o aparelho num domingo à tarde e tinha um cara meio magro apresentando o Domingão do Faustão, com a cara do Faustão, com as roupas do Faustão, com as piadas manjadas do Faustão e ainda por cima falando "ô louco, meu!". A ausência da protuberância abdominal denunciava a farsa. Pensei em avisar a Rede Globo de Televisão que ali havia um larápio, gatuno e oportunista se fazendo passar pelo ex-apresentador do multimilenar "Perdidos na noite".
Mas eu estava errado. Era o Faustão, Fausto Silva, ou melhor, o Iscariotis pós-moderno. Fui informado que ele havia se submetido a uma tal cirurgia que o vem fazendo galopar cada vez para mais longe da terra dos gordos.
Como ele pôde fazer isso?
Será que ele não sabe que durante mais de 20 anos ele fora o perfeito bode expiatório de milhões de pessoas? Sim, porque depois de terminar a semana – ou iniciar, já que insistem em dizer que a semana começa no domingo – comendo mais do que a média dos dias anteriores, indivíduos bovinificados pelo cardápio calórico se acomodavam em seus sofás e dali saiam para dormir apenas após um dos reality shows chatos que parecem imortais.
Faustão transpirava sucesso, demonstrando que o peso não era um impedimento para a fama, dinheiro, poder e vários pontos de audiência na mais poderosa emissora de televisão da América Latina.
Acabou. No lugar daquele parceiro glutão, um quase magrão.
Algo muito importante no ar: em torno dos 60 anos, Faustão decide deixar de ser gordo. Vaidade? Busca por um estado mais elevado de auto-estima? Estética televisiva?
Não, senhoras e senhores do auditório mais amado deste Brasil varonil.
A questão é mais séria.
Saúde.
Saúde.
Saúde.
O Brasil está caminhando a trotes portentosos em direção a uma epidemia de sobrepeso e obesidade. Pesquisas recentes de gente séria indica que em 10 anos estaremos tão desastrados nesse quesito quanto os estadunidenses. Bela importação, do tipo capaz de pesar de verdade a balança comercial.
Com o perdão do trocadilho, outros cientistas atentos vaticinam que as crianças que estão chegando ao mundo nos últimos anos terão a honra às avessas de fazer parte da primeira geração que viverá menos que seus pais.
Nunca.
Nunquinha isso aconteceu antes.
Viemos caminhando há milênios com avanços progressivos em termos de longevidade. Apesar de não ser o único critério para definir a qualidade de vida, ao menos é forte indício de um avanço na proteção à vida.
Mas no meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho.
E a pedra vinha com cobertura de chantilly, refrigerante duplo melado que dói e outras bugigangas alimentares que pedimos pelo número e nos dão dentro de um saco de papelão.
E vamos comendo. Comendo. Comendo.
Num outro dia eu estava com a minha filha de 11 anos em um supermercado. Venho me impressionando crescentemente com a epidemia da obesidade, e propus um exercício de observação a ela. Quantas pessoas naquele local estariam visivelmente acima do peso? E eu não estava em busca das pessoas que estão ligeiramente acima do peso, possivelmente pela coxinha comida no dia anterior.
O resultado? De cada 10 pessoas, entre 6 e 7 estavam visivelmente fora do peso. Questão de saúde pública.
Até o nome do mercado era gordo. Extra.
Obesidade mata. Mata mais que bala de carabina, que veneno estriquinina, que peixeira de baiano.
Obesidade mata mais que atropelamento de "automóver", mata mais que bala de "revórver".
Cometo até a heresia bem intencionada de afirmar que obesidade mata mais que o olhar da dama da música do imortal Adoniran, que este ano estaria completando 100 anos.
Viva, Adoniran. Fora, obesidade.
E quanto a você, Faustão, parabéns pelo esforço.
É respeitável a decisão de procurar saúde, não aceitando o passado como argumento inviabilizador do futuro.
Tá liberado para continuar mandando seus "ô, louco meu!".
Só não me peça para assistir.

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