“E foram felizes para sempre”. Imagine ter uma vida assim, como a anunciada nos finais dos filmes. Parece irreal? Mas é exatamente desse jeito que muita gente quer viver. Emendar conquistas, festas e viagens, colecionar sorrisos e elogios, manter-se sempre jovem, ter um corpo invejável, prestígio, dinheiro de sobra e ser amado por todos é o desejo de muitos. Sem nenhum dia difícil entre todas essas coisas boas.
Só que ninguém consegue trazer a perfeição da ficção para a realidade. E é aí que nasce o problema. Começamos uma maratona em busca da felicidade definitiva, eterna ou qualquer outro termo que possa definir esse paraíso. Uma corrida sem descanso para manter um estado de espírito sempre transbordando contentamento e bem-estar. Vale tudo para alcançar essa felicidade idealizada e supervalorizada nos dias de hoje. Desde conseguir um cargo alto numa empresa concorrida, marcar presença em eventos importantes, ler livros de autoajuda ou comprar os produtos mais caros das vitrines. Ela é tão cobiçada porque funciona como uma chave para entrar no mundo dos vencedores, dos que realmente contam.
Em outras palavras, quem não faz parte do rol dos felizes corre o risco de se sentir à parte desse mundo. O que resta a essas pessoas é ficar num compasso de espera para que a felicidade chegue e não vá mais embora. Mas essa espera tem consequências para a saúde emocional.
“A vida é repleta dessas situações em que somos confrontados com as nossas próprias impotências. Sempre que a gente entende que não pode fazer alguma coisa, é o primeiro impulso para a autoconsciência”
Diz Jonnefer Barbosa, professor de filosofia da PUC-SP.
No livro “A Felicidade, desesperadamente”, o filósofo francês André Comte-Sponville diz que se não somos felizes, nem sempre é porque tudo vai mal ou mais ou menos. Mas porque nos falta sabedoria, que é saber viver num sentido mais profundo. O autor aponta para a direção de ter felicidade com lucidez. Ele fala que o desespero para ser feliz não é o cúmulo da tristeza, mas surge quando não esperamos mais nada porque já temos tudo. E o presente já nos basta ou sacia.
Tentar escapar das emoções negativas que fazem parte da vida pode prolongar as dores que inevitavelmente acontecem. “A desvantagem de fugir do que é irremediável é perpetuar uma situação aversiva. Só descrevendo para si mesmo essa situação de maneira honesta a pessoa vai estar em boas condições de mudá-la”, observa Jocelaine Martins Silveira, professora de psicologia da UFPR.
O texto foi escrito por Sibele Olivera e é uma reprodução parcial do Blog Viva Bem (Uol)