Incubadora de líderes sociais


15 novembro 2005

Promover o empreendedorismo social, ferramenta necessária para a transformação social, é a missão da Ashoka, organização sem fins lucrativos que reúne mais de 1.300 empreendedores sociais em 44 países.

A importância da liderança
Qual a força de uma iniciativa multiplicada por milhões? Este questionamento, de difícil resposta, vem sendo crescentemente exercitado. Um número maior de pessoas se interessa em descobrir o que podem fazer, onde podem fazer e aonde podemos chegar através da mobilização social. E esse processo de reconhecimento da responsabilidade de cada cidadão é primordial para a melhoria efetiva do país. Importante destacar, neste movimento, uma figura que deve assumir o papel de protagonista, coordenando as expectativas e habilidades das outras personagens, encaminhando o espetáculo para um grand finale, tendo suas cortinas cerradas sob calorosa salva de palmas. É o empreendedor social, elemento-chave na transformação da potência em realidade.
 A presença do empreendedor é importante porque instiga, motiva, persuade, coordena e corrige o rumo das ações. Uma equipe sem liderança se assemelha muito a um barco à deriva em mar aberto. Por mais que navegue bravamente, sem descanso, dificilmente alcançará algum porto amigável. Entendendo a significativa contribuição que o empreendedor social pode dar, a Ashoka fornece, no Brasil, desde 1986, apoio financeiro sob a forma de bolsas de manutenção a indivíduos na fase de lançamento de seu trabalho, proporcionando-lhes as condições necessárias para que se dediquem em tempo integral à tarefa de consolidar seus projetos e organizações.

Ashoka brasileira é referência para o mundo
A própria criação da Ashoka remete a um ato de empreendedorismo. Em 1980, William Drayton pediu demissão de seu cargo de alto escalão para perseguir um antigo sonho: criar uma instituição que apoiaria indivíduos dinâmicos com idéias inovadoras e, ao mesmo tempo, práticas, capazes de provocar mudanças sociais abrangentes. Mais de duas décadas depois, a Ashoka está presente em 44 países na América Latina, América do Norte, África, Ásia e Leste Europeu.
O caráter multinacional da Ashoka vem proporcionando uma série de avanços, através da multiplicação das experiências geradas pelos seus escritórios. Um exemplo próximo e claro é o Brasil. Segundo Anamaria Schindler, vice-presidente internacional de parcerias estratégicas da Ashoka, “o país tem sido um laboratório de experiências, metodologias e inovações para a Ashoka internacional. Várias iniciativas foram criadas e testadas aqui para depois serem expandidas além de nossas fronteiras. Um exemplo, segundo ela, é a iniciativa denominada  Base de Cidadania, que busca mobilizar o terceiro setor para o desenvolvimento de inovações em mobilização de recursos locais. Há um treinamento que utiliza a metodologia de jogos de negócios. Após resultados positivos, o treinamento foi sistematizado e expandido para África e Ásia. Um outro exemplo, ainda de acordo com Anamaria, é a parceria estratégica com a McKinsey & Company, iniciada no Brasil em 1996.” Através de ações conjuntas, desenvolvemos treinamentos, concursos e metodologias que visam à transferência de conhecimento e ferramentas de gestão do setor privado para o setor social “, esclarece Célia. A parceria recebeu o nome de Centro de Competência para Empreendedores Sociais, e já foi expandida para outros 8 países na América do Sul, Estados Unidos, Europa e Ásia.
Assim como o Brasil serve de modelo, outros escritórios também empreendem soluções criativas para obstáculos em comum. E esta sinergia só é possível em função da intensa relação que existe entre as unidades da Ashoka. Segundo Anamaria, “há bastante contato com os Estados Unidos, mas também um intercâmbio grande entre todos os escritórios.” Anamaria informa que são feitas reuniões regionais, e, em alguns anos, reuniões globais. A equipe da América Latina, por exemplo, tem uma interação quase diária. Neste movimento de importação e exportação de conhecimento, a balança social acaba sendo a favorecida, registrando contínuos superávits no campo das idéias e ações.

Conhecendo a Ashoka no Brasil
A decisão internacional de estabelecer um escritório no Brasil se deu em 1986, levando-se em conta a necessidade de expansão geográfica da Ashoka para América Latina. Além disto, segundo Anamaria Schindler, “o Brasil é um país privilegiado em termos de inovação e criatividade, um ambiente propício para o desenvolvimento do empreendedorismo social.” De lá para cá, o trabalho vem sendo a promoção da profissão de empreendedor social. Para tanto, a Ashoka capta recursos junto a fontes privadas, ou seja, indivíduos, fundações e empresas. A organização enfatiza, em uma posição diferenciada, que não aceita verbas governamentais em nenhum país. Vale ressaltar que a captação é feita basicamente no âmbito internacional, mas há um direcionamento recente de buscar, também, captar recursos localmente.
Uma outra fonte de recursos – neste caso humanos – da Ashoka, é o trabalho voluntário. A organização acredita que o voluntariado é o diferencial das organizações da sociedade civil com o setor privado. Na própria Ashoka há uma tradição de trabalho voluntário com os consultores da McKinsey & Company, que tornam disponíveis conhecimento e tempo de consultoria em alta gestão. Ademais, existem outros voluntários envolvidos na organização de eventos e captação de recursos. Segundo Célia Cruz, diretora de seleção de empreendedores sociais da Ashoka para o Brasil e o Paraguai, há também um intercâmbio de voluntários. “Recebemos pessoas de outros países – MBA students – que vêm fazer o seu trabalho de férias no Brasil”, informa ela.
A interação com os escritórios internacionais, a captação de recursos e o trabalho voluntário são algumas ferramentas que a Ashoka utiliza para agregar valor em suas atividades e driblar as dificuldades. De acordo com a organização, a sustentabilidade institucional e a disseminação e compreensão do conceito de empreendedorismo social para toda a sociedade, apresentam-se como os principais desafios. Um outro é o desenvolvimento de ferramentas e conhecimento que ajudem os fellows a replicarem seus projetos e medirem o impacto de seus projetos com efetividade. Mas afinal, quem são os fellows?

Critérios de seleção do empreendedor social
Para que a aplicação do recurso seja feita de forma otimizada, a Ashoka executa as seleções com muito rigor, uma vez que ali se dão as escolhas dos os candidatos que receberão bolsa-auxílio para transformar suas idéias em práticas sociais. Os candidatos selecionados são denominados fellows – em português camarada, colega, companheiro – e passam a integrar um time que já conta com 1300 pessoas em todo o mundo. E estes elementos, via de regra, apresentam as seguintes características, consideradas indispensáveis para a seleção: ter uma idéia nova, que denote a criatividade e a personalidade empreendedora, e que carregue consigo a possibilidade de causar impacto social positivo. Além disso, o candidato deve apresentar fibra ética, assegurando que a associação se construa tendo por alicerce confiança e respeito mútuo, através candidatos que sejam “intuitivamente confiáveis”.
No início do mês de junho foram anunciados os 13 novos líderes sociais da Ashoka no Brasil – selecionados entre 300 -, que receberão uma bolsa mensal de até R$ 4.000,00 durante os próximos três anos. Estes novos fellows farão companhia aos outros 200 empreendedores brasileiros já apoiados pela organização. Interessante ressaltar que os escolhidos estão espalhados por todo o Brasil, desde Goiânia até Itanhém, na Bahia, respeitando as demandas de um país continental.
Na opinião de Vivianne Naigeborin, diretora internacional de parcerias estratégicas da Ashoka, o terceiro setor nacional está avançado em algumas áreas, mas ainda está atrasado em outras. A receita para a evolução, segundo ela, passa obrigatoriamente pela profissionalização, pela adoção de instrumentos efetivos para medição do impacto dos trabalhos e pela capacidade de replicar os projetos em outras comunidades. Coincidência ou não, são as armas que o legítimo empreendedor social carrega em seu cinturão.

Origem do nome
Em sânscrito, o nome Ashoka significa "ausência de sofrimento". Ashoka foi o nome de um imperador que governou a Índia durante o século III a.C e é lembrado como um dos maiores inovadores sociais do mundo. Depois de uma guerra pela unificação do país, Ashoka renunciou à violência e dedicou sua vida à promoção do bem-estar social, da justiça econômica e da tolerância. Seus éditos, gravados em pilares de pedra em todo o império, testemunham sua fé na ética como guia para a ação pública.

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