Não quero um sofá no fundo de uma caverna


21 maio 2013

Ai, eu não suporto o meu trabalho Todo dia eu acordo pê da vida com o maldito despertador É trânsito, gente mal humorada, salário baixo, chefe insuportável A vontade de sumir é inimaginável Existir, que deveria ser cura, se parece mais com dor Acho que tá na hora de mexer nas cartas do baralho Quanto será que custa a minha carta de alforria? Mil, dez mil, um milhão? Qualquer que seja o preço, é mais barato que ter uma vida 33% Minha conta é simples, como você pode perceber se estiver atento 33% pra dormir, 33% pra trabalhar e só 33% com algum tipo de tesão Não viverei pra sempre, e nem quero se for com tanta miséria de euforia Mas não é tão simples, não, meu rapaz! Eu tenho um punhado generoso de responsabilidades Pago contas, minhas e dos outros, entende? Chega! O que eu tô dizendo mais parece um repente que só se estende Cansei de ser o rei das justificativas e viver de metades Aliás, de 33% e nada mais Posso colocar a culpa na depressão Ou ainda nos riscos da inflação Mas estou no meu limite Já ganhei de presente da tristeza bronquite e sinusite Quero trocar a segurança morna pelos riscos de ser inteiro Pior que há tempos sei como começar: descolando o sofá do meu traseiro Aos poucos ou a fórceps, vou na velocidade que a coragem permitir Nem sei aonde vou chegar, só sei que é longe e preciso de um plano de transição Vou pensar, planejar, respirar fundo e caminhar com um novo mapa Minha boca está amarga de tantas palavras de reclamação Vou sair dessa lama particular nem que seja a tapa Chega de ser ingrato com quem me deu o presente de existir Sinto um medo profundo de fracassar De ser valente somente no discurso Do meu latido silenciar quando o pneu parar Mas quer saber? Antes o cachorro que late ao ver o carro passar Do que aquele que se transforma aos poucos num triste urso Que se esconde numa caverna escura satisfeito por hibernar Adeus, sofá! Foi bom enquanto durou Mas o meu traseiro não te pertence mais Fui!