O desafio de ser criança há mais tempo


15 junho 2005

Organização sem fins lucrativos de São Paulo atende, há mais de noventa anos, centenas de idosos em regime de internato e semi-internato.

A população do planeta Terra está envelhecendo, e como as pessoas estão passando pela última fase de sua vida? Uma análise breve traz a conclusão de que não está fácil envelhecer em nosso ambiente. E esta afirmação é muito mais verdadeira quando fazemos um zoom nos países menos ricos. Se antes havia o temor de instabilidade causada por jovens desempregados, suscetíveis a serem recrutados para a militância ou atividades criminosas, a existência de uma grande população de idosos desperta outras preocupações. Isto porque o aumento do número de idosos acarreta uma série de impactos: aumentam as pressões sobre os sistemas de atendimento médico, sobre planos de saúde e segurança social, bem como sobre os fundos de pensão particulares.

Estudo mundial da ONU
Incluir no debate social a questão da população crescente de idosos é ponto importante para o bem-estar das comunidades. Estudo publicado pela ONU (Organização das Nações Unidas), intitulado Envelhecimento Populacional, reforça ainda mais esta necessidade. Segundo este mapa, nos países mais pobres, as pessoas com mais de 60 anos já representam um quinto da população. As previsões indicam que a proporção chegará a um terço até 2050. O grupo etário que mais aumenta no mundo é o de pessoas acima de 80 anos. O crescimento é de 3,8% ao ano. Ou seja, são e serão bilhões de seres humanos na fase da velhice, e certamente dezenas de milhões deles em território brasileiro. E por falar sobre o nosso país, afinal, como está o nosso idoso? E, mais, como estará no futuro próximo?

A situação no Brasil
Recentemente o Brasil deu um passo necessário e importante: aprovou o Estatuto do Idoso, trazendo uma nova leitura aos direitos desta parcela da população. Para se ter uma idéia, as estimativas indicam que a partir do ano de 2020 o Brasil terá a 6ª maior população idosa do mundo, o que corresponderá a 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos. É claro que um conjunto de leis é uma evolução, mas não é um fim em si mesmo. Basta lembrar que a Constituição, vigente desde 1988, garante, entre outras coisas, saúde e educação gratuita e de qualidade. Sendo assim, é evidente a necessidade de extrapolar as bem redigidas folhas do papel, que notoriamente aceita tudo. E um caminho a seguir é a viabilização de parcerias intersetoriais, contemplando o governo, o empresariado e a sociedade civil organizada, o proclamado terceiro setor.

Uma organização com 90 anos
A história mostra que a comunidade sírio-libanesa é parte da construção do Brasil, especialmente na região da grande São Paulo. E esta participação vai muito além do empreendedorismo voltado ao comércio, peculiar  neste povo de tradição milenar. Um exemplo é a criação – por parte de integrantes desta comunidade -, da Sociedade Beneficente “A Mão Branca” de Amparo aos Idosos, uma organização sem fins lucrativos que tem como missão atender idosos de ambos os sexos em regime de internato e semi-internato, sem fazer distinção de classe, religião ou raça, independentemente de suas condições financeiras ou estado de dependência.
Fundada em 1912 no bairro da Chácara Santo Antonio, na zona sul de São Paulo, a organização completou noventa anos em 2002. Uma história de dedicação e carinho a uma turma que conta com idade mínima de 65 anos. “Atualmente atendemos 150 pessoas que têm, na média, entre 80 e 85 anos. Há, inclusive, residentes com mais de um século de história para contar”, conta Elizabeth Camasmie Zogbi, presidente da organização.
Na "Mão Branca", como é chamada, a prioridade é a animação e o bem-estar dos idosos. O convívio social e os cuidados com a saúde também recebem atenção especial. E para garantir o correto cuidado com a saúde, existe uma parceria com a  Escola Paulista de Medicina, fazendo com que a medicina geriátrica, a enfermagem padrão, a nutrição e a terapia ocupacional da organização estejam atualizadas.
Existe um privilegiado espaço físico com 4 mil metros quadrados de área construída e 5 mil de alamedas e jardins. Um grande espaço para o preenchimento do tempo destas pessoas que ainda tem muita energia para gastar. “A estrutura interna oferece aposentos, salão de festas, salas de refeições, de fisioterapia, de computação, de lazer (incluindo snooker, dominó, xadrez, cartas), de música, biblioteca e capela. Já a área externa apresenta uma cancha de bocha, espaços para piquenique e recreação, jardins, praças e uma igreja”, relata Elisabeth.

Equipe de funcionários e voluntários
O número de atendidos, as atividades oferecidas e os cuidados que os idosos demandam fazem com que a organização mantenha uma equipe de 104 funcionários, responsáveis pelos serviços administrativos, de enfermagem, médicos, de nutrição, e da terapia ocupacional. Além do regime de internato, uma outra idéia ganhou espaço dentro de seus domínios. Trata-se de um conceito de hospedagem em regime de semi-internato, que tem como objetivo atender às famílias que não têm com quem deixar seus parentes durante o dia. Pode-se dizer que se trata de uma versão para idosos das creches infantis, muito alinhado à idéia de que os mais velhos, afinal, são apenas crianças há mais tempo. Este novo serviço oferecido à comunidade ainda está em fase de “lançamento”, sendo que uma senhora já freqüenta a organização diariamente.
A organização tem um objetivo para oferecer ainda mais opções para aqueles que dela dependem. “Nossa meta agora é  a construção da nova Mão Branca, um centro geriátrico no Km 26 da Rodovia Raposo Tavares, em Cotia. O projeto vai aliar recursos de saúde e lazer em um ambiente extremamente natural”, diz Elisabeth. E os projetos não param por aí. A “Mão Branca” está se preparando para abrir suas portas para os moradores do bairro, de igual faixa etária. Monitorados por alguns dos 70 voluntários da entidade, eles terão acesso às oportunidades de lazer que são oferecidas aos internos, como cursos de bijuteria ou informática.
O programa de voluntariado respeita algumas fases: inicialmente há uma entrevista, seguida de um curso preparatório para a especificação do trabalho com idoso e regulamento da casa. Duas vezes por semestre acontecem reuniões com os voluntários para capacitar, renovar atividades e integrar a equipe. Além disso, há um livro de presença para acompanhamento da assiduidade e compromisso dos voluntários, uma caixa de sugestões e uma coordenação de voluntariado trabalhando diretamente com a presidência. “Formamos uma rede de voluntários que se responsabiliza pelas atividades de recreação e estimulação dos idosos, por isso investimos na seleção e capacitação daqueles que estão conosco”, informa Elisabeth.

Recursos necessários para manter os trabalhos
Desnecessário explicar que a estrutura apresentada requer recursos para se sustentar. Sendo assim, a organização faz coro com aqueles integrantes do terceiro setor que buscam na diversificação das fontes de recursos a garantia de sua manutenção. A explicação é a segurança que o trabalho ganha quando fica livre da dependência de uma única torneira.
“A participação da comunidade é intensa na arrecadação de recursos, trazendo contribuições mensais de empresas, sócios e familiares dos hóspedes e organizando bazares e festas beneficentes”, conta Elisabeth. Além disso, a “Mão Branca” capta recursos através do aluguel de imóveis próprios – a maioria doados à organização -, aplicações financeiras, aluguel de espaço para a colocação de outdoors e doações através da internet. E para deixar clara a aplicação dos recursos, um balanço anual é publicado em jornal de grande circulação.
Como dizia o saudoso Betinho, qual a força de uma iniciativa multiplicada por milhões. A Sociedade Beneficente “A Mão Branca” de Amparo aos Idosos trabalha pela dignidade de algumas centenas de idosos, assim como tantas outras organizações espalhadas pelo Brasil. São exemplos como este que indicam o caminho a trilhar no equacionamento da questão do envelhecimento populacional. Exemplos que colocam em primeiro plano o respeito à pessoa e às peculiaridades de uma fase tão linda e delicada da vida de um ser humano.

Itens para doação
Fraldas, alimentos não perecíveis, cadeiras de roda e banho.


A MÃO BRANCA
www.amaobranca.hpg.ig.com.br
Contato: Nadir
Av. Santo Amaro 6487 – São Paulo – SP / Cep: 04701-100
Tel: (0xx11) 5687 9366 / Fax: (0xx11) 5522 4650

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