Onde há fumaça, há fogo. E muitos outros desafios.


15 abril 2005

Para garantir vida saudável às atuais e futuras gerações, organização social do Acre promove a consciência ambiental, proteção de recursos naturais renováveis e conservação da biodiversidade

Apresentar uma peça teatral cuja protagonista seja uma celebridade mundial não é fácil, ainda mais quando existe um sentimento de posse, admiração e preocupação coletiva pela figura central do enredo. O caso se agrava quando a temática que envolve a protagonista não é uma obra das artes cênicas, mas sim oportunidades de negócios multimilionários e mais, fatores determinantes para o bem-estar mundial, o que explica sobremaneira o grande interesse e comoção que causa há tempos.
Abrindo as cortinas do mistério, quem protagoniza esta argumentação que se inicia é a Floresta Amazônica, localizada ao norte do continente sul-americano, com aproximadamente 67% de sua área situada dentro do território brasileiro. O restante da sua área está distribuída entre nossos vizinhos Venezuela, Suriname, Guianas, Bolívia, Colômbia, Peru e Equador. Ou seja, a maioria considerável deste universo está em terra brasilis, o que reforça ainda mais a importância do trabalho da organização a ser apresentada neste espaço.
Não é segredo algum que a Floresta reúne uma sorte incomparável e incomensurável de riquezas, o que atrai interesses diversos desde a colonização do Brasil. A pilhagem, por assim dizer, vem acontecendo de acordo com a disponibilidade dos seus recursos naturais e da necessidade econômica em cada etapa deste processo. A intensificação da exploração ganhou muito fôlego a partir da década de setenta, com maior ocupação e extração mineral e vegetal. Atualmente, os principais processos de degradação envolvem desmatamentos para agropecuária, extração de madeira e ocupação. E não pára por aí, pois a indústria da mineração explora o ferro, cassiterita, bauxita, ouro, entre outros elementos. Quem pensa que pára por aí, está enganado. As queimadas transformam espaços gigantescos em cinzas para formação de pastagens, abertura de estradas, e outros interesses. Enfim, dissertar sobre os ataques à integridade da Floresta Amazônica é prato cheio para quem gosta de escrever títulos com milhares de páginas, dada a truculência, variedade e volume de incursões sinistras e inconseqüentes. Dada a limitação física deste espaço, a opção é pela apresentação de uma iniciativa que há quase 17 anos busca minimizar o trator da irresponsabilidade. Trata-se da Associação SOS Amazônia, fundada em setembro de 1988 com o objetivo de denunciar as agressões, além de apoiar o movimento de resistência dos seringueiros aos desmatamentos no Acre e colaborar com a formação de uma opinião pública que valorizasse a conservação ambiental.
 Início da história e projeção de trabalho
A assembléia de criação da organização contou com a participação de professores da Universidade Federal do Acre, servidores públicos e líderes do movimento social, dentre eles Chico Mendes. A partir de 1991, tendo a Educação Ambiental para o tratamento de resíduos sólidos como principal linha de trabalho, passou a atuar na área urbana de Rio Branco, capital do Acre. Envolveu-se indiretamente na gestão de áreas florestais a partir de 1989, e em 1995, de forma direta, voltou-se para o planejamento e gestão de Unidades de Conservação. “De forma ampla, a missão de nossa organização é promover na sociedade o crescimento da consciência ambiental, a proteção dos recursos naturais renováveis e a conservação da biodiversidade, para garantir vida saudável às atuais e futuras gerações”, afirma Kelly Gouveia, Secretaria Administrativa da SOS Amazônia. Tal consciência é urgente, pois pesquisas indicam que em menos de 30 anos, uma área maior que a França foi destruída na Amazônia.
O trabalho de maior destaque da organização foi a elaboração do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Divisor, que é uma área de conservação que abrange 5 municípios do estado do Acre: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Marechal Thaumaturgo e Porto Walter. O tamanho do Parque impressiona, pois a sua área de 843 mil hectares representa, em uma conta de padaria aproximada, um milhão e quatrocentos mil campos de futebol de tamanho oficial. “Este plano serviu de base para a elaboração do Zoneamento Ecológico e Econômico de estado e para o Planejamento para a Conservação de Sítios, que definiu prioridades para a conservação da biodiversidade nessa parte da Amazônia”, informa Kelly. O Plano de Manejo, concluído em setembro de 1988, foi elaborado em parceria com a The Nature Conservancy e com apoio da USAID. “O documento é formado por 6 encartes, com aproximadamente 700 páginas no total e algumas informações, inclusive, podem ser encontradas no site da organização, o www.sosamazonia.org.br”, completa ela.
Capacidade técnica e captação de recursos
Obviamente que o exercício deste tipo de atividade requer uma alta capacidade técnica ligada à causa abordada pela organização, fator cada vez mais necessário para o sucesso e sustentabilidade do Terceiro Setor. Está cada vez mais claro que as entidades sociais desprovidas de profissionalismo terão os desafios ainda mais ampliados, uma vez que empresas, governos e a própria sociedade civil passa a cobrar resultados práticos, além de boa vontade e intenções. A SOS Amazônia vem se valendo do conhecimento técnico dos seus colaboradores para ganhar o respeito da opinião pública, assim como o investimento contínuo em uma gestão administrativa e financeira transparente e uma rede de parcerias que complemente e dê suporte às suas iniciativas.
A entidade é uma referência no que se refere à captação de recursos junto a organismos internacionais, pois seus projetos contam com o apoio de diversas instituições, como USAID, WWF Brasil, FUNBIO, Margot Mash Biodiversity Foundation, The Nature Conservancy, Embaixada dos Países Baixos, entre outros. Além desses, parcerias técnicas acontecem com o Ibama, Governo do estado do Acre, Prefeituras de Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Mesmo com estas conquistas na difícil arte de levantar recursos, Kelly Gouveia afirma que “os maiores desafios ainda estão no campo da captação, pois não conseguimos instituir ainda um fundo institucional com doações particulares de empresas e indivíduos. Nossos recursos são em sua maior parte proveniente de projetos, com rubricas rígidas e específicas. Os doadores em grande parte têm resistência ou limitação aos custos de manutenção das sedes e isso dificulta a tranqüilidade no sentido de manutenção de equipes e gastos administrativos que os projetos demandam”. Ela aproveita para reforçar o coro daqueles que acreditam que a falta de diferenciação de carga tributária para o terceiro setor – os custos trabalhistas são os mesmos de empresas com fins lucrativos – dificulta a aprovação de custos salariais por parte dos doadores estrangeiros, já que onera muito o custo do projeto.
A relevância das ações que desenvolveu ao longo de sua existência tem propiciado o apoio e reconhecimento público de diversas instituições nacionais e internacionais. O esforço de fortalecimento da gestão institucional foi coroado com o Prêmio Bem Eficiente de 2004, concedido pela Kanitz e Associados. Firmar as bases da organização sobre solo cada vez mais firme é fundamental para que a SOS Amazônia cumpra continuamente seu papel, desafiando grupos e movimentos totalmente focados no curto prazo. Desta forma, inclusive, vidas dedicadas à conscientização e proteção ambiental, assim como justiça social, são valorizadas.
Semente de esperança
Esta matéria, manifestação de apoio àqueles que defendem os verdadeiros e nobres interesses da Floresta Amazônica, é uma homenagem a Chico Mendes e à Irmã Dorothy, esta última assassinada recentemente aos 74 anos, possivelmente em função de sua luta pela distribuição de terras no Pará. Seu corpo foi sepultado às margens do rio Anapu, em uma área cercada de árvores frutíferas do sítio São Rafael, onde ela desenvolvia um projeto de educação ambiental e de reprodução de mudas de espécies nativas da Amazônia. Durante a cerimônia, o bispo da Prelazia do Xingu, Dom Erwin Krautler, disse, emocionado: “Irmã Dorothy não será enterrada. Irmã Dorothy será plantada para que sua luta dê muitos frutos”.


Associação SOS Amazônia
Rua Pará, n°:61 – Cadeia Velha
Kelly Gouveia – Sec. Administrativa da SOS Amazônia
Telefone: (68) 3223-1036
www.sosamazonia.org.br
Cep: 69900-440
Rio Branco/AC

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