Plantação de cidadãos


15 fevereiro 2003

“Eduquem-se os meninos e não será preciso castigar os homens”. Este pensamento de Pitágoras reflete com muita clareza a missão da Associação Educacional para Adolescentes e Crianças, o CEPAC, organização social sem fins lucrativos criada para agregar valor ao processo de formação dos futuros cidadãos e protagonistas sociais, contribuindo para a melhoria da perspectiva de vida do atendido e de seus familiares. A parcela da juventude atendida pelo CEPAC encontra-se no Parque Imperial, um bairro carente situado no município de Barueri, há alguns quilômetros da capital de São Paulo.
 Desde 1993, ano de fundação da organização, já foram atendidos 1485 crianças e adolescentes carentes, os quais participaram dos programas educacionais oferecidos pelo CEPAC. Não há dúvidas que o trabalho desenvolvido proporcionou mudanças profundas e perenes nos seres humanos em questão. Educar para não precisar castigar. Mais uma vez recorremos ao pensamento para salientar que dentro de uma parcela social calejada pelos castigos diários, a existência de um espaço de ampliação da condição cidadã e humana é muito comemorada, apesar de todos os desafios pertinentes à manutenção de uma entidade assistencial em fase de expansão.
 Processo necessário e irreversível, o crescimento da capacidade de atendimento do CEPAC encontra aliados em sua história e personagens, testemunhas de uma tarefa social que vem fazendo a diferença na região em que atua, extrapolando o resultado de suas ações para dentro do seio familiar, referência básica para um desenvolvimento pessoal equilibrado. Entre 2001 e 2002, o número de crianças e adolescentes atendidos passou de 230 para 300, representando um acréscimo de 30%. Para um trabalho direcionado e adequado, existe uma divisão por idade: o núcleo infantil (7 a 13 anos) e juvenil (14 a 19 anos), sendo que o primeiro ocupa o período da tarde e o segundo o período da manhã. Importante ressaltar que somente são aceitos crianças e adolescentes regularmente matriculados nas instituições de ensino público. Mas final, o que faz com que cada vez mais as pessoas do Parque Imperial e região se interessem pelo programa educacional do CEPAC?
 A resposta fica nítida ao conhecermos as atividades que são preparadas para os atendidos. São oficinas e aulas divididas em módulos compatíveis com a idade e o grau de desenvolvimento. Para os menores, as oficinas fomentam desde o treino ortográfico e a criação de textos até cursos práticos e teóricos de horticultura e educação ambiental, dentre outros temas pertinentes ao processo de formação de um indivíduo mais preparado e consciente. Para os mais velhos, existem espaços para o exercício da comunicação, formação de opiniões, arte, informática, cidadania e inglês. Além da “grade curricular” normal, as atividades suplementares para alunos e pais reforçam a certeza de que o CEPAC cumpre um papel decisivo na vida atual e futura de sua comunidade. Para os alunos, são oferecidas aulas de xadrez, oficinas de redação e coral, além de palestras sobre gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis. Para os pais, existe um curso de cultivo de brotos de feijão e um processo de capacitação de agentes de saúde, oferecendo elementos para os pais complementarem a renda familiar e se tornarem agentes multiplicadores de cidadania dentro de sua comunidade.
 Quando se pensa em manutenção de toda esta iniciativa e também na sua ampliação, imediatamente surgem curiosidades sobre a gestão da organização, uma vez que os resultados indicam que o CEPAC é uma referência para outras instituições que desejam ver suas iniciativas fortalecidas e rendendo novos frutos. Dois assuntos cruciais vêm logo à mente: recursos humanos e recursos financeiros. Como o CEPAC lida com estes dois fatores de sucesso – ou fracasso – dentro de seus domínios?
 Comecemos pelo capital humano, “engrenagem” indispensável para o alcance dos objetivos sociais. O CEPAC possui um amplo programa de voluntários, contando com aproximadamente 70 pessoas que atuam em diversas especialidades: médicos, dentistas, professores do coral e xadrez, agentes de saúde, além do conselho e diretoria que não são remunerados. Os voluntários representam 80% dos recursos humanos da organização, existindo um acompanhamento próximo e constante por parte da coordenação geral junto às atividades dos voluntários, visando manter o grupo motivado e coeso. Explicitar freqüentemente para o trabalhador voluntário que ele é decisivo para o sucesso da organização cria o necessário clima de propriedade e comprometimento com a causa.
 Com relação aos recursos financeiros, observa-se a preocupação do CEPAC na diversificação das fontes, evitando a dependência completa ou muito significativa de recurso A ou B. Não cansamos de repetir que esta estratégia e preocupação são muito importantes para a sobrevivência das iniciativas. Assim, recursos são obtidos junto a empresas e fundações, governos municipal e estadual, associados e outras fontes. Vale ressaltar que o CEPAC exercita muito a sua rede de relacionamentos, buscando sempre novos canais de potenciais financiadores de seus projetos, inclusive na esfera internacional. Para tanto, busca fundações e organismos que tenham afinidade com sua causa, tendo já conquistado bons frutos para a organização.
 Ainda dentro da gestão de recursos da instituição, um passo importante foi dado para colocar em prática a transparência em utilização: desde março de 2002 foi implantada uma auditoria externa das contas do CEPAC, realizada de forma gratuita pela Deloitte Touche Tohmatsu, uma das empresas mais respeitadas do mundo nesta área. Mais um ponto para a gestão da organização, que abre suas contas para a completa verificação, fornecendo aos seus apoiadores e colaboradores a confiança para tocar o barco adiante.
 Os resultados alcançados pela eficiente gestão do CEPAC podem ser percebidos em três depoimentos, os quais representam com muita propriedade o processo de transformação social que esta organização social vem desenvolvendo. Uma das mães afirma: “… este trabalho está sendo fundamental para construir um melhor caráter em nossos filhos, deixando-os mais seguros, mais comunicativos, mais instruídos e preparados para a grande concorrência do mundo!”. Uma outra constatação importante vem da polícia local comunitária: “O índice de criminalidade vem baixando ano a ano neste bairro. Não sabemos precisar com exatidão o motivo, mas atribuo grande parte ao trabalho que o CEPAC vem desenvolvendo, tirando das ruas crianças e adolescentes, dando-lhes condição para interagir neta sociedade”. E como não poderia deixar de ser, buscamos as palavras de um aluno de 17 anos: “Meu sonho é ter um bom emprego e cantar. Para isso eu preciso ter um alicerce e isso eu encontro aqui no CEPAC”. São revelações que indicam os resultados que um trabalho social realizado com afeto, dedicação e profissionalismo pode gerar dentro da comunidade em que atua, especialmente quando os objetivos sociais estão alinhados com as necessidades das pessoas de seu entorno.
 Fortalecer o alicerce dos futuros cidadãos, educando para não ter de castigar. Quem sabe o resultado que esta iniciativa, multiplicada por tantas outras pode gerar? É certo que o método do castigo não vem se mostrando adequado há mais de 500 anos, somente no Brasil. Assim, toda iniciativa que aposta honesta e emocionalmente na inversão do foco de tratamento merece ser reconhecida e utilizada como referência.

Missão: Trabalhar com crianças e adolescentes carentes, além de atender suas famílias, visando melhorar sua realidade.
Criação: 1993
Informações para box:
o Em 2002, 400 candidatos participaram do processo de seleção, sendo 170 matriculados
o Existem 400 crianças e adolescentes, inclusive muitos já aprovados, em lista de espera
o Núcleo Infantil (7 a 13 anos): 10 turmas de 15 alunos, no período da tarde
o Núcleo Juvenil (14 a 19 anos): 10 turmas de 15 alunos, no período da manhã
o Atividades do Núcleo Infantil (7 a 13 anos): oficina de linguagem, oficina de artes, informática e oficina de saúde e alimentação
o Atividades do Núcleo Juvenil (14 a 19 anos): comunicação, multimeios, artes, informática, cidadania e trabalho e inglês
o Atividades suplementares aos alunos: aulas de xadrez, oficina de redação, coral e palestras sobre gravidez indesejada e DST-AIDS
o Atividades suplementares aos pais: curso de cultivo de brotos de feijão e capacitação de agentes de saúde
o 85 pessoas envolvidas no trabalho do CEPAC
o 68 voluntários (médicos, dentistas, professores do coral e xadrez, agentes de saúde, conselho e diretoria)
o 17 funcionários contratados (coordenadoria geral, professores e administrativo)
o Em 2001 o CEPAC atendia 230 alunos, passando para 300 em 2002
o De 1993 a 2001 passaram pelos programas educacionais do CEPAC 1485 crianças e adolescentes carentes
o Aquisição de terreno e construção de sede própria, com implantação de horta com sistema irrigatório e maquinário
o Construção de consultório médico-odontológico
o Auditoria gratuita realizada pela Deloitte Touche Tohmatsu


 
CEPAC – Associação Educacional para Adolescentes e Crianças
Rua Martim Afonso de Souza, 72 – Parque Imperial – Barueri/SP
Fone: (0xx11) 4195-9060
E-mail: cepac1@aol.com

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