Criando criaturas criadoras


15 outubro 2003

Conheça o MOC – Movimento de Organização Comunitária -, organização social que há mais de 35 anos ensina comunidades a caminhar com as próprias pernas, melhorarando suas condições socioeconômicas.

Quem nunca ouviu a metáfora da criatura que se tornou mais forte que o criador? Observando as situações que têm este desfecho, as conclusões podem indicar uma conquista ou uma derrota para o criador. Tudo depende do objetivo inicial proposto. O MOC – Movimento de Organização Comunitária – situado em Feira de Santana, na Bahia, é um típico criador que comemora o desenvolvimento de suas criaturas, vendo seu trabalho realizado e recompensado pelas conquistas daqueles que com ele aprenderam a caminhar.
Um exemplo vivo é a Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente, situada nessa localidade com pouco mais de 19 mil habitantes, a 238 quilômetros de Salvador. O trabalho desse grupo começou há vinte anos, oportunidade na qual agricultores desenvolveram, a partir de orientações do MOC, formas para melhor aproveitar o sisal, espécie de fibra utilizada para a produção de diversos itens. Através dos novos conhecimentos e técnicas, os resultados vêm sendo constantemente aprimorados. Atualmente a associação beneficia o sisal de forma profissional, exportando tapetes, bolsas, entre outros itens. Segundo Naidison de Quintella Baptista, secretário-executivo do MOC,  “a ABAED de Valente gera 850 empregos diretos, em uma cidade com uma população pequena. Ou seja, eles já empregam mais do que o próprio governo municipal”. E o mais importante: há muito tempo caminham com as próprias pernas.
Voltando a falar do criador, o MOC é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de natureza beneficente, considerado de utilidade pública municipal, estadual e federal. Desde sua fundação em 1967, a organização vem direcionando a sua atuação em prol das populações menos favorecidas, discriminadas, sejam elas da periferia urbana ou de comunidades rurais. Ainda segundo Naidison, “o desafio constante é promover o aparecimento de associações comunitárias rurais e urbanas, para que elas aprendam a fazer e construam sua própria história e autonomia”.
Atualmente 30 municípios do semi-árido baiano contam com ações do MOC, que atingem aproximadamente 70 mil pessoas. E para que as comunidades se tornem capazes de fazer, existe todo o esforço para assessorar, capacitar e apoiar – elaborar materiais, estar presente, discutir, refletir, criticar e ser criticado, propor – mas, é bom que se lembre, nunca substituir a ação dos próprios grupos. Através desta forma de atuar, a organização vem contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região sisaleira, especialmente na busca dos direitos, além de dar exemplos de projetos para o governo, interferindo diretamente nas políticas públicas.
Buscando cumprir sua missão, o MOC possui linhas diretas de atuação, que se subdividem em projetos específicos, abordando latências sociais da região em que atua. Para conhecer ao menos as linhas de compromissos assumidos, vale informar que a organização trabalha pela melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares, através do “Programa Agrícola”. Além disso, existe um forte trabalho na busca dos direitos das mulheres, através da criação de um Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais, integrante do “Programa de Gênero”. O MOC também possui esforços contínuos em um “Programa de Educação Rural”, capacitando professores rurais em parceria com as prefeituras, além de formar monitores da Jornada Ampliada ("Programa de Erradicação do Trabalho Infantil") em parceria com o Governo Federal. Outro projeto que chama atenção na linha da educação rural leva o nome de “Baús de leitura”. O secretário-executivo do MOC, Naidison de Quintella Baptista, explica que esta iniciativa tem como objetivo difundir a leitura prazerosa e crítica entre as crianças da área rural. “Já foram distribuídos 603 baús de sisal com 45 livros dentro, que atingem cerca de 400 professores e 24.000 crianças”. A organização ainda atua, dentro de seu "Programa de Políticas Públicas", incentivando a participação, por parte da população organizada, na definição das políticas públicas, buscando inserir no debate as questões que mais afligem as comunidades.
Observando a amplitude das ações do MOC, surge naturalmente a dúvida sobre a capacidade de gerenciar e garantir a qualidade de todas as iniciativas. Então, faz-se necessário conhecer a fórmula para o sucesso nestes mais de 35 anos de intervenção social. O segredo? Trabalho em parceria, seja com as lideranças das comunidades nas quais os projetos acontecem ou através da atuação de profissionais voluntários estrangeiros, que emprestam seu conhecimento para o atendimento dos objetivos. Assim, sempre que uma nova ação social começa, as lideranças locais – igrejas, sindicatos entre outros – são envolvidos, criando um senso de propriedade e uma rede capaz de tocar a bola para frente. Afinal, o trabalho do MOC se espalha num raio de 500 quilômetros, e seria inviável, além de pouco inteligente, buscar a onipresença.
 Além de braços para empreender suas ações, o MOC, assim como qualquer tantas outras organizações do terceiro setor, precisa de apoiadores institucionais e, sobremaneira, financeiros. E neste quesito a organização dá um exemplo de estratégia de captação de recursos, uma vez que há muito tempo grande parte de sua verba vem de organismos internacionais, prova de competência na hora de elaborar e executar as propostas. Naidison explica que “há financiamentos oriundos do Unicef, assim como de Portugal, Holanda, Espanha, EUA, Bélgica, Áustria e Alemanha”. Normalmente estes parceiros tradicionais fecham apoio por um prazo médio de 3 anos. “Quando o projeto alcança a metade do último ano, um representante do órgão apoiador vem até nós para a definição do próximo passo. Ou seja, não basta elaborar um bom projeto no papel, com o risco de não ter a parceria renovada. É preciso cumprir o estabelecido para dar seqüência ao trabalho”, explica o secretário-executivo do MOC.
Mas nem tudo são flores na captação de recursos internacionais. É importante lembrar que esta fonte vem diminuindo o seu volume com o tempo, em função de restrições de recursos para países latino-americanos. A explicação, segundo Naidison, “é a migração de financiamentos para países da África, Ásia e Europa Oriental”. E para que as ações sociais não sejam prejudicadas, o MOC vem desenvolvendo novas formas de captar recursos, somando esforços com o mundo empresarial e solidificando parcerias com as 3 esferas governamentais.
Com a municipalidade, existem parcerias – por exemplo na capacitação de professores da rede de ensino. Com os governos estadual e federal, há a destinação de verbas para as iniciativas, muitas delas inseridas, inclusive, nas políticas públicas. Observando um quadro de proporções da origem das verbas destinadas ao MOC, tem-se que 50% ainda são provenientes de fora do país; 12% vêm do empresariado e 38% governo. A organização praticamente não possui geração própria de renda, salvo através do aluguel de alguns imóveis e espaços, que tem pequena representatividade no orçamento.
 Avaliando os principais desafios da organização, fica clara a preocupação de fazer bem feito aquilo que já foi iniciado, ou seja, não abandonar a linha de ação. Para tanto, é preciso apostar cada vez mais nas parcerias, exercitando a reciclagem de conhecimentos, além de convidar continuamente o cidadão para a participação social. Além disso, Naidison explica que o MOC compartilha um dos maiores dilemas do Terceiro Setor atual. “Estamos buscando entender como nos inserir cada vez melhor na nova conjuntura política, que demonstra cada vez mais interesse em criar parcerias intersetoriais”.
A instituição entende que a sua causa – a organização comunitária – não é um objetivo que lhe pertence, mas sim ao desenvolvimento do país. Assim, cada vez mais pretende colocar à disposição das comunidades da região sisaleira baiana, a sua capacidade de ensinar as criaturas a se tornarem criadores. Criadores de um futuro equilibrado e sustentável. Criadores de um Brasil melhor.

Números do MOC
• Atuam em 30 municípios do semi-árido baiano, em um raio de 500 quilômetros;
• As ações da organização atingem 70.000 pessoas da região
• Linhas de atuação: “Programa Agrícola”, “Programa de Gênero”, “Programa de Educação Rural”, "Programa de Políticas Públicas"
• Capacitação de professores da rede pública municipal: 230 em 9 cidades
• Baús de leitura: 603 distribuídos, cada um contendo 45 livros – 24.000 crianças atingidas e 27.000 livros distribuídos
• 15 mil cisternas instaladas no programa de apoio à agricultura no semi-árido com pequenos agricultores
• 4.000 famílias recebem orientação de 23 técnicos para convivência com a seca
• 23 cooperativas de crédito formadas a partir do trabalho do MOC
• 60 funcionários

Movimento de Organização Comunitária
Rua Pontal 61 – Feira de Santana/BA – Cep: 44017-170
Contato: Naidison de Quintella Baptista
Tel: (0xx75) 221 1393
Fax: (0xx75) 221 1604
Área de Atuação MOC: Desenvolvimento local sustentável
http://movimento.hypermart.net/

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