Quem tem medo do lobo mau?


15 dezembro 2002

Em algum momento de nossas vidas esta figura esteve entre nós. Em todas as épocas, variando-se o nome e as características físicas da personagem, de acordo com a história na qual estava inserida. O lobo mau, o bicho-papão, o homem do saco e tantos outros que povoam as lendas, fábulas e contos infantis. Ufa, que bom que crescemos e ficamos livres daquele medo do escuro, esconderijo perfeito de nosso inocentes temores.
Tornamo-nos adultos e livramo-nos dos carrascos de nosso imaginário. Passamos a ser parte ativa de uma sociedade e ficamos protegidos por suas regras e pelo fato de pertencermos a um grupo, não estando mais sozinhos, acuados e trêmulos embaixo de nossos cobertores. Afinal, existem leis exaustivamente discutidas para garantir nossos direitos e nossa integridade física e moral. O lobo mau se foi, enterrado em nossos devaneios infantis. Será?
Calma, calma. Não é preciso pânico. Não estamos aqui para assustar o lado infantil que resiste, felizmente, dentro de nós. Pretendemos apenas entender se o medo do escuro e suas ameaças ficaram para trás. Afinal, nosso medo infantil vinha do fato de não termos certeza sobre o exato instante que o lobo mau surgiria das sombras. Não conhecíamos as regras do jogo. Hoje somos adultos, muito mais conscientes. Mesmo assim cabe uma pergunta: a quantas anda o nosso conhecimento acerca daquilo que nos compete? Conhecemos as já citadas leis, regras, direitos e deveres que norteiam nossa condição cidadão?
Parece-nos que a questão precisa ser retomada: saímos do escuro que nos amedrontava? Tudo indica que não, na grande maioria dos casos. Fica explícito que apenas trocamos de lobo mau. O que antes era um ser extraído das historinhas, hoje se faz evidente na escuridão da falta de conhecimento e envolvimento dos cidadãos.
Luz, luz e mais luz. Foi o que pediu Goethe no momento de sua morte. Não temos dúvidas de que a luz de nosso momento é a informação. Condutora de energia e poder transformador, a informação habilita o ser humano a assumir seu papel de cidadão. Um tanto quando escondidas, as informações existem e aguardam ser descobertas, iluminadas e multiplicadas. A base de uma sociedade equilibrada é a justa democratização da informação.
Quem nunca se sentiu lesado e internalizou o sentimento por não ter certeza do direito que o resguardava? Se levarmos o questionamento às camadas menos favorecidas, perceberemos ainda mais a crueldade da escuridão, cadafalso inequívoco da cidadania pseudo-conquistada. E não basta acendermos uma vela para iluminar somente o nosso próprio caminho. Desta forma, certamente nossos corpos fariam sombra a muitos que estivessem próximos de nós. Faz-se necessário, sim, a transformação de cada cidadão num ente de luz que irradie a partir de si a imbatível luminosidade do saber. Saber ser eleitor, saber ser consumidor, saber ser vizinho, saber ser brasileiro. Saber que temos um grande potencial, muito maior e real do que estas ufanistas palavras.
Pois é, o lobo mau continua entre nós. Devemos concordar que ele mudou de feições. Responde agora por outros títulos, como falta de informação, falta de cidadania, falta de respeito pelos outros e por si. E só conseguimos extirpar o maldoso lobo mau acendendo a luz do quarto. Mas onde está o interruptor?
Elementar, meu caro Watson. Tiraram o interruptor de seu lugar tradicional. Colocaram-no mais para cima, a uma altura que nossos braços dificilmente alcançarão sem ajuda. E agora, José? Estamos condenados a viver na escuridão algoz da falta de civilidade e capacidade de discernimento, ignorantes de nosso papel real no destino de nossa pátria? Não, necessariamente.
A saída está na união daqueles que sabem onde está o interruptor, fonte de luz. Sozinhos não conseguimos fazer a luz para aqueles que vagam pela escuridão. Mas abraçando-nos à causa da multiplicação da informação, conseguiremos fazer de nossos braços extensões de nossas vontades, acionando o almejado estopim da luz. Ao assumirmos o compromisso de iluminar as regras do jogo, esclarecendo de forma objetiva e convidativa àqueles que insistem em se esquivar, estaremos incendiando positiva e definitivamente a cidadania de nosso povo. Vamos eliminar de uma vez o lobo mau de nossas vidas. 
Como dizem por aí: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Então, resta-nos encarar o bicho de frente, mostrando que podemos e vamos acender a luz de nossas vidas, e não mais teremos medo do lobo mau.

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