Apostas para a nova rodada


15 janeiro 2012

Chegou chegando, pés embalados por movimentos constantes, conquistando de maneira inapelável o seu espaço. Em alguns causou susto; em outros, incômodo; e em outros, ainda, alegria. O fato é que a nova rodada de tempo se estabeleceu: 2012. Muito já se falou sobre as previsões apocalípticas para o ano. Na falta de confirmação do evento, contudo, optei por fazer as costumeiras reflexões que tanto combinam com os novos ciclos.
 
Meus desejos normalmente orientam as minhas apostas quando o assunto é o planejamento das ações futuras. Como o campo do desejo é menino trigueiro, procuro fazer laços entre aquilo que quero, posso e devo. Há algum tempo eu li algo que me causou uma perturbação interessante, vitamina amargamente nutritiva, a partir das palavras do filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Ele apresenta uma analogia que aproxima a vida humana a um pêndulo, que transitaria entre a frustração e o tédio. A primeira estaria relacionada aos momentos em que desejamos algo sem ainda possuí-lo. O segundo aos momentos pós-conquistas, quando já temos o que desejávamos e nos damos conta que a força do desejo era maior que a capacidade de satisfação decorrente da conquista. Desejávamos pelo fato de não termos, e quando conquistamos deixamos de desejar por já possuirmos.
 
Quem me ajudou com a digestão da provocação foi Nietzsche, também filósofo e também alemão. Ele discordou de Schopenhauer, pois acreditava na possibilidade de escaparmos do pêndulo a partir da nossa vontade, da paixão pelo nosso destino. Ele chamou isso de amor fatti (destino), pelo qual podemos encontrar cor até mesmo na dor. Não se trata de negar a dor, mas de exercitar a musculatura da resiliência, termo que vem da Física e nos inspira a considerar a possibilidade de respondermos às pancadas e desafios por meio de respostas criativas. Ele fala, ainda, de aprendermos a dançar no caos. Eu quero dançar no caos.
Minhas apostas principais para 2012: alegria e empatia. A primeira eu quero construir diariamente, arrancando a catarata que por vezes nubla minha visão. Estou certo que também neste ano verei situações que não me agradam, mas sinto que posso lidar muito melhor com elas se estiver atento à beleza simples das flores que se encontram na paisagem de meu caminho. Pode até ser filosofia de boteco. Possivelmente é mesmo, e não vejo nada de errado nisso. Até porque os papos de boteco muitas vezes são mais interessantes e sinceros que muitos grupos de pesquisa acadêmicos. Não se trata de ser inocente a ponto de achar que o mundo é perfeito. Perdoe-me, Pollyanna, mas ele não é. Tampouco se trata de ser perverso a ponto de ignorar as cores, cheiros e sabores cotidianas. Quero meus sentidos disponíveis para captar os estímulos nutritivos que me auxiliarão na travessia rumo ao futuro.
 
Além da alegria, a empatia. E por meio desta pretendo compartilhar a potência criativa, a partir da desafiadora tarefa de me colocar cada vez mais no lugar do outro. Construir pontes que substituam os muros, especialmente por meio do diálogo compreensivo, permitindo-me visitar universos distintos daqueles que habitam as cercanias do meu umbigo. Ufa! Apesar de apenas duas apostas para 2012, considero-as radicais e pretensiosas. Certamente demandarão de mim meus melhores esforços.
 
Há alguns dias reuni algumas palavras em forma de poema. Deixo o final deste texto sob responsabilidade delas, desejando ao estimado leitor conquistas múltiplas nessa nova rodada, especialmente orientadas pela alegria e empatia.
 
Tô de alma lavada com a vida levada que ando levando. Abraçando meu plano, plantando leveza nos anos de estrada. Colhendo beleza na porta de entrada da casa que é minha, que tem no jardim sorrisos sem fim pra você e pra mim. Que venha mais chuva, espalhada por vento e tingida de uva depois do fermento. Sinto cheiro de alma limpa. Sinto gosto de vida doce. Sinto que sinto bem, cada vez melhor, o que eu quero pra dois mil e doze.
 

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