Etapa 2 – Jornada de Visitas aos Doutores Cidadãos (Cruz Azul)


2 setembro 2017

Local: Hospital Cruz Azul

Data: 2 de setembro de 2017

Horário: 11h às 13h

Participantes: Ana Paula Gil (Dra. Fusilli Falcão), Antonio Carlos Pellacani (Dr. Pombo Raviolli), Clebia Ayala (Dra. Gargarara), Felipe Mello (Dr. Raviolli Bem-te-Vi), Leticia Hidalgo (Dra. Pizza Papacapim), Patricia Puk (Dra. Saripastel) e Sidneia Aparecida Boni (Dra. Rondellita Beija-Flor).

DIÁRIO DE VISITAS (por Felipe Mello, fundador do Canto Cidadão)

A visita ao hospital foi curta, mas de alta intensidade. Quando cheguei, a turma já estava no nono andar realizando os atendimentos.

Depois de interagir desde a portaria até o elevador, desembarquei no andar combinado e, sem ser visto, vi uma voluntária no final do corredor, em frente a uma mulher que parecia ser uma acompanhante, cuja postura entregue num sofá anunciava um momento desafiador.

Havia ali, naquele encontro, um silêncio, uma troca cúmplice de olhares empáticos. O sofrimento daquela mulher parecia ganhar colo no olhar atento da palhaça.

Esta é uma torcida grande e uma das motivações essenciais do que buscamos fazer. Se não se pode fazer sumir a dor do outro, pode-se oferecer apoio, muitas vezes com a presença honesta, discreta e carinhosa de quem compreende e acolhe. Só tudo isso.

Instantes depois a minha presença foi revelada, quando entrei num quarto onde estavam outras voluntárias e o voluntário, bendito entre elas.

Conversavam animadamente com uma paciente já idosa e, também, com seus acompanhantes. A emoção da paciente era nítida, assim como a gratidão das outras pessoas do quarto, que interagiam bastante com a palhaçaria.

Ao final da visita, a eternização do momento, por meio de uma foto solicitada e tirada pela acompanhante.

Quando todos já tinham saído do quarto, e eu me encaminhava para a porta, a senhora paciente me disse: – Você não chegou perto.

Era verdade, pois eu tinha chegado por último e tinha ficado mais distante para não tumultuar em demasia o entorno do leito.

Mas, depois do comentário dela, me aproximei e disse que a distância era para protegê-la de minha fachada mal diagramada. Ela riu e agradeceu. Disse que todos nós éramos lindos (tem gosto para tudo, né? rs), e que a visita tinha alegrado o dia dela.

Palavras de reforço a quem acredita no poder do sorriso e dos bons encontros. A ausência de gargalhadas da paciente não fora o resumo da visita. Ela nos tinha recebido e internalizado de outra forma, e ali devolvia como podia, com olhos marejados e palavras de agradecimento. Alegria, alegria.

No quarto seguinte, uma coincidência tão improvável como ganhar na loteria ou receber o telefonema do Brad Pitt: uma das voluntárias conhecia a paciente, pois havia estudado com a filha dela há XYZ anos (a elegância me impede de declarar a quantidade de tempo… rs) numa escola da Zona Norte de São Paulo-SP.

E mais! A paciente ao lado também havia estudado na mesma unidade de ensino. Qual a chance disso acontecer duas vezes? Sei lá, mas é baixa. O resultado, no entanto, eu vi.

Pra quê? A partir daquele momento, parecia que estávamos na casa de pessoas conhecidas e reconhecidas há tempo de uma vida toda. O papo fluiu com rara facilidade e leveza. As dores ortopédicas das pacientes de nomes diferentes e reais saíram de férias por instantes, permitindo o colóquio, o chiste, os olhares de quem pouco se conhecia e já se sentia bem no encontro.

Ah, o caminhar do tempo, espaço e seus acontecimentos.

Sigo chocado com a coincidência. E se não foi coincidência? Hein, hein?

Afinal, só aconteceu porque lá estava a voluntária que conhecia a paciente.

Viva o voluntariado que sai das belas palavras e vira singelos encontros. Isso, sim, faz o destino virar realidade.

Na saída do quarto, o marido de uma das pacientes estava chegando. Ficou alegre do alto de seu bigode espanhol.

Talvez o sorriso de sua esposa o fizera alegre. Ali havia décadas de parceria, e nesses casos, sei porque já vi muitos desses casais e desejo ser um deles, o sorriso do outro é beijo de flor em nossa face.

Até logo, meninas senhoras de gessos branquinhos! Que venha a próxima pegadinha do destino ou da vida realizada, para que nós nos encontremos em outras circunstâncias.

A seguir, fomos todos à sala do Voluntariado do hospital. Aliás, registro o zelo do Cruz Azul com o espaço destinado às(aos) voluntárias(as). Oxalá outros hospitais ofereçam, o quanto antes, esse carinho e respeito em forma de limpeza, tranquilidade e segurança para quem se oferece a colaborar com a unidade de saúde.

Na hora seguinte, ouvi e falei sobre o Acordo de Responsabilidades dos Doutores Cidadãos. Além de encontrar as(os) voluntárias(os), a Jornada de Visitas que estou fazendo tem como outro objetivo fundamental conversar sobre este momento do Canto Cidadão. Acreditamos demais no voluntariado e na arte em hospital para seguirmos sendo protagonistas e cúmplices de qualquer tipo de atividade que não seja inspirada pelos valores mais elevados de clareza, ética, solidariedade e cidadania.

Sugestões foram dadas, incômodos foram compartilhados, possibilidades foram organizadas. E assim, ainda que sem uma unanimidade em todos os pontos, saí de lá com a sensação de que podemos e devemos melhorar cada vez mais o que nos propomos a fazer, tanto do lado do Canto Cidadão quanto do lado de quem lá decide se voluntariar.

Como disse a quem lá estava, e aqui estendo a todos os integrantes atuais e futuros, as portas estão abertas.

Nosso maior propósito é seguir adiante de braços dados com quem compreende a importância de fazer o bem de forma bem feita, especialmente em respeito à causa maior da arte em hospital, e ainda maior da cidadania e do respeito incondicional à vida.

Até logo! Obrigado pela acolhida! Em breve estarei na próxima etapa da Jornada de Visitas. E vocês, que hoje me receberam, virão comigo como nutrientes à minha crença no poder do sorriso.