Protagonismo como antítese da mediocridade


15 abril 2006

Jovens cearenses desenvolvem ações sociais e formação e informação para milhares de outros jovens, provando que jovens fazem toda a diferença quando se engajam.

Vamos tratar de protagonismo social juvenil?
Há tempos esta coluna deseja apresentar um texto que tivesse em sua espinha dorsal a contribuição que os jovens brasileiros vêm entregando às suas comunidades. Existem provas incontestes destes movimentos, espalhados pelos quatro cantos do continente apelidado de país que é o Brasil.
Antes de mais nada, entretanto, cabe salientar que é impossível fechar os olhos para a mediocridade de uma grande parcela de adolescentes e quase-adultos, especialmente no que diz respeito à consciência e ativismo políticas. Sem cair na armadilha leviana de comparações infundadas, um simples lance de olhar para a França nos faz compreender o que um grupo de jovens engajados em torno de um tema pode fazer. Novamente, não se trata de questão de mérito, nem sobre a positividade ou negatividade das ações por lá empreendidas, tampouco sobre a pertinência de mirarmos neles como moldes. A citação é apenas uma provocação, uma reflexão, um convite a todos que têm o interesse na construção de um país menos debochado.
Mas afinal, o que é protagonismo social juvenil? Uma consulta traz a seguinte definição: é um tipo de ação de intervenção no contexto social para responder a problemas reais onde o jovem é sempre o ator principal. É uma forma superior de educação para a cidadania não pelo discurso das palavras, mas pelo curso dos acontecimentos. É passar a mensagem da cidadania criando acontecimentos, onde o jovem ocupa uma posição de centralidade.
Acrescentando um pouco de tempero na receita, protagonista é o jovem que desperta e participa como ator principal em ações que não dizem respeito somente à sua vida privada, familiar e afetiva, mas a problemas relativos ao bem comum, em diversos locais, desde a escola, comunidade ou sociedade em termos mais amplos. Outro aspecto é a concepção do jovem como fonte de iniciativa, que é ação; como fonte de liberdade, que é opção; e como fonte de compromissos, que é responsabilidade. O conceito demanda que o jovem participe do planejamento da ação, execução, avaliação e apropriação dos resultados.
O desejo de apresentar informações sobre a atuação dos jovens nas comunidades motivou uma pesquisa, que resultou na descoberta de um projeto original e genuinamente ligado ao protagonismo social juvenil. Trata-se do IJC – Instituto de Juventude Contemporânea, que desde 1999, em caráter pioneiro, transforma a vontade de jovens oriundos de diversas pastorais populares em ação direta junto à juventude cearense.
“O movimento começou em Fortaleza, e a partir de 2001 se estendeu para todo o estado do Ceará, com a formação da Rede de Jovens no Ceará, que uniu o Instituto de Juventude Contemporânea à Pastoral da Juventude e a FETRAECE (Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará), os quais perceberam a capacidade de intervenção social da Juventude, e a necessidade do trabalho em conjunto entre organizações e entidades”, conta Fábio Mendes, coordenador de gestão do IJC. A atuação em rede vem possibilitando um salto de qualidade e quantidade nos projetos da ONG, pois existe a multiplicação de conhecimento e iniciativas que deram certo, e que podem ser aplicadas em localidades distintas de onde foram concebidas.
A organização IJC é orientada em ações alinhadas ao eixo das políticas públicas e relações de gênero, pelos seguintes programas: Formação Integral para Jovens; Formação Continuada de Educadores de Jovens; Articulação em Redes; Gestão e Desenvolvimento Institucional.
Dentre os projetos desenvolvidos, o “Sexo Seguro, tá ligado(a)?” chama a atenção pela pertinência e atualidade dos temas que aborda, assim como pela linguagem que utiliza para realizar ações formativas e informativas de prevenção as DST/ HIV/AIDS com adolescentes e jovens, na faixa etária de 13 a 26 anos, matriculados nas escolas da rede pública, pela reflexão sobre a tomada de nova postura diante dos comportamentos de riscos.
Segundo Fábio Mendes, “em 2005 o projeto contou o apoio do Ministério da Saúde e da UNESCO, e após encerramento da parceria houve uma recomendação à Prefeitura de Fortaleza, e atualmente realizamos os eventos com o apoio da direção das escolas. Temos um núcleo formado por quatro jovens em cada escola, e eles passam por uma capacitação para depois organizar e conduzir as atividades com competência”. No ano passado a ação beneficiou 4552 jovens, que participaram de grupos de estudo, rodas de conversa sobre sexo seguro, pontos de encontro e festival de artes. “E é claro, receberam preservativos e foram orientados para a sua correta utilização”, completa Fábio.
Ainda na linha da educação sexual para a prevenção de DST’s/AIDS, planejamento familiar, métodos contraceptivos e temas relacionados, o IJC – Instituto Juventude Contemporânea lançou neste ano mais duas iniciativas: uma denominada Diálogos Abertos, que atualmente atende 45 jovens da periferia de Fortaleza (vindos de diversos movimentos sociais) que se reúnem para aprender e dar sua opinião sobre opção e direitos sexuais. “Eles estão passando por um processo de formação nos temas para depois levar para seus grupos a multiplicação de informações”, informa o coordenador de gestão da ONG. Recentemente foi realizado um seminário para trabalhar com oficinas artísticas sobre as vertentes relacionadas à opção e direitos sexuais, assim como os desafios ligados ao sexismo e homofobia. “Estiveram presentes 115 jovens, que produziram obras em pintura, literatura de cordel, teatro de bonecos, colagem, tudo para dar vazão às suas opiniões sobre os temas”, relata Fábio.
O outro projeto que começou este ano e que vem recebendo o apoio do UNICEF é o “Conviva”, ainda em fase experimental, e que atua junto a jovens soropositivos com formação integral, desde a sua atuação sujeitos sociais, sua relação com a sociedade e a afirmação de seus direitos.
É desta forma que o IJC vem dando a sua parcela de contribuição à causa do fortalecimento da juventude brasileira, somando ações para olhar de frente e distribuir conhecimento sobre assuntos de interesse desta parcela da população. A participação ativa de colaboradores jovens, voluntários ou não, é um terreno fértil para a construção de lideranças comunitárias, que se desenvolvam pessoal e profissionalmente ao mesmo passo em que compreendam a pertinência de também se desenvolver socialmente. Confúcio já dizia há séculos que aquele que ouve, esquece; aquele que vê se lembra vagamente, mas aquele que faz aprende. Sem a participação o conhecimento é frágil!
O protagonismo social juvenil se configura como um antídoto à inércia improdutiva e retrógrada de muitos jovens espalhados pelo país. Pais, professores, líderes sociais, figuras públicas e anônimas (mas interessadas) devem conhecer as contribuições que o voluntariado e o engajamento podem trazer aos cidadãos em formação. Recomendado a todos, especialmente aos 20% dos jovens brasileiros (entre 14 e 25 anos) que recentemente responderam a uma pesquisa nacional dizendo que estão sem trabalhar ou estudar. Para não cair na vala comum por dizer que mente vazia é oficina do diabo, vale alterar o ditado e enfatizar que mente vazia é oficina da mediocridade.

IJC – Instituto Juventude Contemporânea
(85) 3247-7089
www.ijc.org.br
Rua João Lobo Filho, 267 – Bairro de Fátima
Fortaleza/CE
CEP: 60055-360

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