Quase tese econonômica


30 julho 2013

Agorinha mesmo, coisa de dez minutos atrás, fui visitado por um pensamento nada original, mas que causou cócegas gostosas em minha ambiciosa proposta de ser menos tóxico e mais nutritivo a mim mesmo e aos outros. Enquanto eu dava conta de alguns afazeres domésticos inadiáveis por questões de dignidade, elaborei uma singela quase-tese econômica. O computador tocava a deliciosa trilha sonora do filme Amélie Polin. Comércio exterior. Importação e exportação. Indicadores econômicos. Déficit e superávit. Expressões poderosas, quase xingamentos para a maioria de nós. Na verdade os verdadeiros xingamentos são menos ofensivos do que aquilo que os entendidos em economia fazem, usualmente fabricando exploração e miséria para alimentar o monstrinho da ganância que habita em nossos poros demasiados humanos. Mas a minha reflexão foi muito menos complexa do que aquelas que os profissionais do tema costumam enfrentar e engendrar. Pensei na economia em seu sentido original. Lei da casa. Há tempos aprendi que etimologicamente é esse o sentido dessa palavra. Salve, Viktor D. Salis, eterno professor. Então pensei na dualidade constante entre sermos importadores e importantes. Quem não quer ser importante, aos olhos dos outros, em uma ou mais dimensões de nossas vidas? Não me refiro à importância banal, como reconhecimento frágil e passageiro. Não me refiro aos quinze minutos de fama. Falo de sentir-se, de fato, importante aos olhos e corações alheios. Eu desejo ser importante. Mas o quanto eu sou importador? Para que a balança seja positiva nesse sentido, superavitária, não tenho mais dúvidas de que antes de querer ser importante eu devo me esmerar na arte de ser importador. Valorizar o outro. Claro, o outro que merece, ao menos em minha opinião, sempre tão sujeita às oscilações. Àqueles que não fazem parte de minha lista de bons afetos, não me esforço em fazer mal. Minha energia mal dá para resolver as minhas coisas, que dirá arquitetar pensamentos, sentimentos e ações para prejudicar quem quer que seja. Tenho para mim que tem gente que cava seu próprio buraco, entra e cobre-se até a última pá de solidão triste. Enfim, prefiro me ocupar daqueles que me encantam. Em relação aos seres que me parecem encantadores, prossegui na reflexão. Talvez eu, e quem sabe você também, ou seja, nós, estejamos querendo a qualquer custo o título de importantes antes mesmo de importarmos, pela valorização explícita e cotidiana, aqueles que fazem as nossas existências mais alegres. Quero inverter essa lógica perversa e narcisista. Ô, tarefa difícil! Em tese é simples, mas vira e mexe vem o vício de querer instaurar taxas de importação. É assim: eu posso até importar o outro, reconhecer o seu valor, demonstrar o quanto o outro é importante, mas se vacilo um instante lá estou eu apresentando a conta por querer bem o outro. Talvez só a consciência disso e a disposição para fazer diferente possam afastar de mim essa caixa registradora do capeta. Campanha pelo superávit afetivo! Antes de querer ser importante, quero importar para os melhores cômodos de minha morada aquelas pessoas que me encantam. Que nesse rumo caminhem minhas diretrizes econômicas. Que essa seja a lei máxima da minha casa. Hora de continuar com os afazeres domésticos, mas agora no lado de dentro. Tantas reformas para fazer nas estruturas internas, para que os meus convidados desfrutem de bons e confortáveis momentos. Minha casa, sua casa. Acho que agora entendi a expressão!