A todos que anunciam constantemente a sua insatisfação com as coisas da vida, tenho uma proposta: candidatem-se ao cargo de pato do Parque do Ibirapuera.
Quer função mais interessante? Impossível.
Os patos do Ibirapuera devem ter linhagem divina, semideuses com pedigree registrado no cartório do Olimpo. Sem exageros, ser pato no parque mais importante de São Paulo é garantia de gozo cotidiano. Aos céticos, seu prato principal, fatos e argumentos!
Quem é que passa o dia no local mais agradável da cidade, próximo a tudo, com dezenas de recantos verdes incríveis, museus, obras de arte, gente bonita e ainda assim, a 10 minutos de qualquer opção pós-moderna, cult e necessária?
Quem? Pato do Ibirapuera.
Quem é que é agraciado praticamente em tempo integral com guloseimas levadas por visitas intermináveis? Pipoca doce e salgada, pães diversos, salgadinhos, frutas e outros quitutes de variadas sortes, tudo a custo zero. Nem os 10% do garçom é precisa acertar. Delivery 100% na faixa.
Quem? Pato do Ibirapuera.
Pensa que estão esgotadas as razões capazes de despertar a cobiça entre os humanos? Mil vezes, não.
Quem é que tem a sua vaidade massageada intensamente por meio das peripécias realizadas por fãs capazes de tudo por uma foto bem tirada, que certamente ilustrará galerias facebookianas e orkutianas?
Quem? Pato do Ibirapuera.
Quem tem lagos encantadores para praticar gratuitamente a natação, acompanhado de colegas, paqueras, filhos, sobrinhos e agregados, tudo com direito a banho de sol e cobertura contra as precipitações pluviométricas?
Quem? Pato de Ibirapuera.
A lista tende ao infinito. Acreditem. E isto que eu nem apelei dizendo que pato do Ibirapuera não paga supermercado, IPTU, condomínio, Zona Azul, Visa, Amex, Diners, Mastercard, Eletropaulo, Sabesp, Comgás, Telefonica, Tim, Vivo, Oi, Claro, Nextel, Net, DirecTV, financiamento de carro, apartamento na cidade, praia e campo, educação dos filhos – regular, idiomas, esportes e hobbies -, pós-graduação, academia, viagens, plano de saúde, juros bancários de fazer inveja a Ali Babá e outros tantos adicionais.
Contudo, se a oferta, por mais irresistível que pareça, não lhe causou comoção suficiente, então não seja pato do Ibirapuera. Seja você mesmo.
Se você já sabe que não nasceu para ser pato do Ibirapuera, descubra para que, então, está circulando por aqui. Se você já sabe, sente ou pressente qual é o seu caminho, talvez a energia que esteja faltando para as pernas caminharem mais e melhor seja exatamente aquela investida na reclamação cotidiana, que alimenta a insatisfação e faz o indivíduo invejar até mesmo os patos do Ibirapuera.
Talvez isso explique por que alguns deles andam nadando para cima e para o fundo com galhinhos de arruda atrás da orelha…
Texto de Felipe Mello, comunicador, radialista, ator e palhaço, diretor-fundador do Canto Cidadão e sócio da Comunidea.
Contato: felipe@cantocidadao.org.br
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